Temporada com novas linhas

a Para comemorar o seu quinto aniversário a Orquestra do Algarve resolveu apostar em novas linhas de programação que não se restringem à arte dos sons. O maestro Cesário Costa, que tem a seu cargo a direcção artística, resolveu lançar um desafio à escritora Lídia Jorge, convidando-a a participar na temporada 2007/2008. "Pretendemos estabelecer colaborações com artistas que não sejam músicos e associar as suas perspectivas à orquestra", explicou ontem Cesário Costa durante a sessão de apresentação do programa à imprensa. "Por isso, além de um solista associado, que será o pianista Artur Pizarro, e de um compositor (Luís Tinoco), resolvemos perguntar a uma escritora o que é que ela gostaria de fazer com a orquestra."Lídia Jorge aceitou o desafio e encontra-se neste momento a preparar um programa em que a palavra associada à música assume um relevo especial. "Sinto-me um bocadinho uma espia na casa da música mas estou muito entusiasmada", disse a escritora. "Estamos a trabalhar num projecto que irá alternar trechos sinfónicos e trechos líricos consagrados à voz feminina e ao ponto de vista das heroínas operáticas. A ideia é que as pessoas se aproximem mais da mensagem do texto. Há numerosas árias que conhecemos de ouvido sem nunca termos reflectido sobre o seu conteúdo. Não estou a pensar num público erudito, mas numa espécie de oferta para os amigos." Lídia Jorge irá traduzir os textos das árias, mas para já prefere não adiantar o alinhamento do programa.
A participação do pianista Artur Pizarro irá traduzir-se numa viagem pela literatura concertante (Chopin, Mozart, Poulenc, Armando José Fernandes) e a parceria com o compositor Luís Tinoco num Atelier de Leitura de obras de jovens compositores.
"O projecto não é inédito mas em Portugal nem sempre se tem dado a devida importância à leitura de obras dos compositores mais novos. Por seu turno estes ficam fechados na música de câmara porque sabem que têm mais probabilidades de ver as obras interpretadas", explicou Tinoco. O índice de participação foi altíssimo e foram já seleccionadas oito peças.
Numa temporada que abrange a vertente regional, nacional e internacional haverá ainda cruzamentos com o fado (um concerto com a fadista Joana Amendoeira) e com o jazz através da colaboração com o trio de Mário Laginha. Prossegue também a colaboração com a Orquestra da Extremadura (Espanha) no intercâmbio de solistas e na interpretação de grande repertório sinfónico (Sinfonia Fantástica de Berlioz e 1ª Sinfonia de Mahler). No campo da ópera destaca-se um concerto pela soprano Elisabete Matos, com árias de operetas e zarzuelas, a apresentação de A Voz Humana de Poulenc, com Sónia Alcobaça, e A Lição de Offenbach, com encenação de José Lourenço. Concertos pedagógicos, música de câmara, concertos com os vencedores do Prémio Jovens Músicos e do Concurso de Interpretação do Estoril e uma residência em Évora constituem outros percursos de uma programação que se pretende tão diversificada quanto possível no sentido de captar novos públicos. Está ainda prevista a criação do Ensemble Juvenil do Algarve, como forma de criar alicerces para a prática orquestral na região.

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