Torne-se perito

Depoimentos

Danças com LobosDas Danças - Em 1979, com a Rádio Comercial no seu início, lançámos o conceito de grelha de programas. Pela primeira vez uma estação organizava a sua programação com objectivos definidos, alvos identificados e criadores em antena.
A Onda Média diferente do FM, com grupos etários, sociais e culturais diversos, tentando, na mesma emissora, a convivência entre contrários. Um espelho da própria sociedade. Um reflexo devolvido de uma forma pensada, dirigido à emoção e à razão. Fazendo, finalmente, parte da vida das pessoas.
Nesse espaço fizeram-se em OM novos programas de culto: Grafonola Ideal e Febre de Sábado de Manhã do Júlio Isidro, mas mantiveram-se marcas como os Parodiantes de Lisboa, ou Quando o Telefone Toca. Em FM o Rock em Stock do Luís Filipe Barros, o Café Concerto da Maria José Mauperrin, o Morisson Hotel do Rui Morisson foram também novos programas de culto, mas mantivémos a marca do Em Órbita do Jorge Gil.
Muitos outros tiveram sucesso : Pão com Manteiga do Carlos Cruz, Flor do Éter e Rebéubéu Pardais ao Ninho do Herman José, Country Music do Jaime Fernandes, Os Cantores do Rádio do José Nuno Martins e, já agora, os que fiz com Maria Elisa Fogo Cruzado, com Miguel Esteves Cardoso Trópico de Dança, ainda com o MEC e com David Ferreira e Margarida M. de Mello Escola do Paraíso, ou as Marcas de um Século com o João Alfacinha da Silva, para dar alguns exemplos.
Mas de todos, em termos de verdadeiro culto, nenhum superou as emissões/emoções do António Sérgio: Som da Frente, Lança-Chamas, Rolls Rock.
Cumpre reconhecer, no entanto, que hoje, passados mais de 20 anos, nas danças e andanças de programas, uma rádio privada tem opções que nem sempre se compadecem com programas de culto.
Dos Lobos - Se calhar foi por isso que o Pedro Ribeiro, um grande profissional de rádio, teve que acabar com o programa do Sérgio, que afinal já não se chamava (que pena!) Hora do Lobo, mas Nas Horas.
E ele há horas infelizes! A MCR passa por uma delas. Acaba de dispensar uma das poucas referências que restam na Rádio Portuguesa.
Encontrei o Sérgio nos anos 70, no meio do movimento punk, convidei-o para a Comercial, ainda na fase do Rotações e depois foi a explosão da música, vibrante, intimista, pesada, insólita, diferente, criativa, o verdadeiro som da frente.
Foi sempre essa, afinal, a marca do António Sérgio : um homem do som, na frente. Um lobo solitário, que teve a sua hora em várias horas.
Nas horas más, como agora, os lobos recolhem-se, mas não esquecem. Regressam inexoravelmente. E o António vai ter que voltar!
Já que há RDP (olá Rui Pego) espero que em breve o António Sérgio continue a dar o som da frente e a lançar chamas de novo, nas horas da Antena 3. Na Hora do Lobo.
Será um serviço público e de defesa do ambiente.
Olhem que os lobos têm que ser protegidos porque, pelos vistos, estão em vias de extinção!
João David Nunes
Antigo director da Rádio Comercial

Um farol solitário
Vou ser tendencioso. Da Media Capital - a empresa-mãe da Comercial - não gosto nada. Do António Sérgio só posso dizer bem. Há mais de trinta anos vejo nele a mesma pessoa informada e com a paixão da música que encontrei há dez semanas no Festival da Lusofonia (diz-se que também vai fechar... será possível?!); o Sérgio lá estava - quase só, como de costume, no que toca a radialistas - a ouvir mais longe: e a noite de Kalaf e os Poetas gloriosamente provaria que mais uma vez o instinto o não enganara.
O Sérgio descobriu, do inesperado posto de observação que era a Renascença de meados dos anos 70, o punk. Depois, o João David pescou-o para a Comercial e deu-lhe o que é preciso dar a pessoas assim, mãos livres; anos mais tarde, o Luís Montez faria o mesmo. O Sérgio virou farol, abriu ouvidos e apoiou bandas novas, com aquele entusiasmo juvenil hoje tão raro de encontrar. E farol muitas vezes solitário, ainda mais valioso por isso mesmo.
Até voltar à antena - que seja depressa! - vai fazer muita falta.
David Ferreira
Ex-director da EMI-Valentim
de Carvalho

Aquele "gravão" que
me enche as medidas

É uma pena [o programa sair de antena]. Perde-se um grande divulgador e deixamos de ouvir aquela voz vincada, que me é muito agradável. A figura do António Sérgio acorda em mim recordações de quando me liguei ao movimento Punk, em 1978.
Ele foi o primeiro a começar a divulgação daquele tipo de música. Foi um tempo curioso. Éramos para aí uns 20, em Lisboa, que ouvíamos sagradamente o António Sérgio, ainda quando ele estava julgo que na Rádio Renascença.
Desde então para cá ele tornou-se importantíssimo na minha carreira. Tornámo-nos amigos. É uma personalidade com um grande conhecimento do rock&roll. Tem um ouvido e uma sensibilidade especiais para descobrir o que há de novo e aquilo que vai ser importante. E tem uma voz impecável. À tarde já era boa, mas é especialmente adaptada à noite, com aquele "gravão" todo, que me enche as medidas.
Zé Pedro
Guitarrista dos Xutos
& Pontapés

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