Guardas da Revolução iraniana podem ser declarados organização terrorista

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Os Guardas da Revolução são a força de sustentação do regime iraniano Raheb Homavandi/Reuters

Os EUA preparam-se para incluir os Guardas da Revolução iranianos, a organização de elite das Forças Armadas iranianas, na lista de organizações terroristas, uma iniciativa que marca o endurecimento da política americana destinado a atacar as fontes de financiamento da organização.

A confirmar-se esta iniciativa, noticiada nas edições de hoje do “New York Times” e do “Washington Post”, será a primeira vez que Washington coloca na lista do Departamento de Estado uma unidade militar de um país soberano.

Criados após a revolução islâmica de 1979, os Guardas da Revolução constituem uma força autónoma do Exército regular iraniano, assumindo-se como força ideológica do regime. Dotadas de meios terrestres, navais e aéreos próprios, estima-se que os Pasdaran (guardas, em farsi), tenham à sua disposição 125 mil elementos, na sua maioria milicianos, mas também soldados de elite da Força al-Quds, cuja principal é treinar movimentos revolucionários islâmicos.

O Irão faz já parte da lista de países que patrocinam o terrorismo, mas ao rotular os Guardas da Revolução de organização terrorista a Administração americana ganha novos instrumentos para controlar as fontes de financiamento da unidade, como a possibilidade de congelar os seus fundos no estrangeiro.

Os dois jornais adiantam que a ordem executiva poderá ser publicada nos próximos dias, mas um responsável da Administração, que falou à Reuters sob condição de anonimato, revelou que apesar de a iniciativa ser quase certa não foi ainda decidido quando será concretizada.

Confrontados com esta informação, os Departamentos de Estado e do Tesouro, directamente envolvidos na decisão, escusaram-se a tecer comentários. “Não vamos discutir quaisquer acções que estão ainda a ser ponderadas”, afirmou Sean McCormack, porta-voz da diplomacia norte-americana.

Casa Branca exclui hipótese militar

Também a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, se mostrou parca em comentários, limitando-se a adiantar que Washington “continua a exigir que o Irão desempenhe um papel construtivo na região e pare de apoiar organizações terroristas”. A porta-voz voltou a afirmar que “não está a ser ponderada uma acção militar” contra o regime iraniano, mas insiste que “o Presidente [George W. Bush] nunca retirou esta opção de cima da mesa”.

Há muito que os EUA acusam o regime iraniano de apoiar organizações terroristas para desestabilizar o Médio Oriente, o Afeganistão e, mais recentemente, o Iraque. Nas últimas semanas, responsáveis militares americanos acusaram os Guardas da Revolução de estarem a treinar e armas as milícias xiitas, sublinhando que estão a aumentar os ataques contra os soldados americanos com recurso a armas de fabrico iraniano.

No início deste ano, as forças americanas detiveram dois iranianos no Norte do Iraque, que garantem ser membros da unidade de elite iraniana, envolvidos no contrabando de armas. Teerão diz que são dois diplomatas e, em retaliação, capturou em Março 15 “marines” britânicos acusados de terem entrado nas suas águas territoriais, no golfo Pérsico. Os soldados só foram libertados um mês depois, após intensas negociações.

O “Washington Post” adianta ainda que a tentativa de estrangular financeiramente os Pasdaran se destina a acalmar os meios, tanto republicanos como democratas, perante a falta de resultados das iniciativas diplomáticas para convencer o Irão a abdicar do seu programa de enriquecimento de urânio.

No entanto, Ray Takeyh, perito em assuntos iranianos do Council on Foreign Relations, adverte para os efeitos que esta iniciativa hostil terá nos contactos que Washington tem mantido com Teerão para melhorar a segurança no Iraque.

“Será ainda mais difícil um acordo com o Irão se um pilar tão importante do Estado for ostracizado”, lembrou o perito, lembrando que o embaixador iraniano em Bagdad, que tem conduzido os contactos com os norte-americanos é ele próprio um antigo membro dos Guardas da Revolução.

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