Ossadas humanas à vista de todos no cemitério das Caldas da Rainha

Munícipe denuncia "espectáculo macabro e um atentado à saúde pública" e pediu explicações, mas não conseguiu obter qualquer resposta dos serviços camarários

a Estão amontoadas em caixas, devidamente numeradas, à vista de toda a gente, junto a um dos portões de acesso do chamado "cemitério novo" das Caldas da Rainha. São ossadas humanas que foram levantadas dos túmulos e que ali são manuseadas sem quaisquer cuidados especiais. Ao lado estão baldes de plástico (também numerados) onde "repousam" mais ossadas, talvez para serem limpas. Tudo no chão de cimento, sem bancadas e sem nenhum responsável por perto (pelo menos, nas duas vezes em que o PÚBLICO visitou o local), à mercê de animais e de eventual vandalismo.José Costa, das Caldas da Rainha, diz que nem queria acreditar, quando viu esta situação pela primeira vez, quando, recentemente, participou num funeral. "Isto é um espectáculo macabro e um atentado à saúde pública. Ainda por cima, isto é feito continuadamente e os restos humanos ficam aqui expostos e acessíveis, até durante a noite, a pessoas e animais", disse ao PÚBLICO.
José Costa, indignado, escreveu uma carta aos serviços da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, mas é normal a autarquia não responder aos munícipes. Nela expôs o estado de abandono daquele equipamento público e a sua falta de higiene e de segurança. Os acessos às campas não estão cuidados, nas casas de banho há torneiras acopladas aos autoclismos, revelando um continuado improviso e não raras vezes o pátio interior do cemitério é usado para estacionamento.
Curiosamente, o "cemitério novo" (assim chamado por oposição ao "velho" que fica noutra zona da cidade, agora cercada de prédios) foi alvo de uma menção honrosa no Prémio Municipal de Arquitectura que a Câmara Municipal das Caldas da Rainha promove para premiar os mais bem desenhados e funcionais edifícios do concelho. Construído nos anos 80, é da autoria do arquitecto João Aboim, que, 20 anos depois, é agora vereador do executivo camarário caldense (embora não tenha a seu cargo a tutela dos cemitérios).
Funcionamento bizarro
A própria gestão daquele espaço é também invulgar, pois, segundo José Costa, não existe um coveiro em permanência no cemitério, mas sim um indivíduo que tem a função de abrir e fechar as suas portas, explorando também o quiosque de venda de flores que ali existe.
Mais grave é o facto de este ter um negócio de cantaria no próprio cemitério, fazendo concorrência des-
leal a outras empresas do sector, e uma relação privilegiada com uma agência funerária das Caldas da Rainha, o que veio a ser confirmado ao PÚBLICO por um agente de casa funerária que preferiu manter o anonimato, mas que disse ser tudo isto do conhecimento da própria autarquia.
O PÚBLICO tentou contactar o gabinete de comunicação do município das Caldas da Rainha, mas não obteve resposta daquele serviço.

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