Rússia coloca bandeira no fundo do oceano Árctico para reclamar o Pólo Norte

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A Rússia quer marcar as suas pretensões à nova corrida ao ouro do Árctico Toussaint Kluiters/Reuters

Exploradores russos tocaram hoje no fundo do oceano Árctico, mesmo por baixo do Pólo Norte, a uma profundidade de 4261 metros. Bem protegida dentro de uma cápsula de titânio, os exploradores vão deixar lá em baixo uma bandeira russa — como os norte-americanos fizeram quando colocaram o seu pavilhão, o stars & stripes, na Lua.

Esta será uma forma simbólica de reclamar para Moscovo uma grande parte do Pólo Norte, que se pensa ser rica em recursos naturais, como petróleo e gás natural, bem como diamantes, metais e novas zonas pesqueiras, de espécies apreciadas, como o bacalhau. A Rússia quer marcar assim as suas pretensões à nova corrida ao ouro do Árctico, a todas as riquezas que passarão a ficar disponíveis quando o aquecimento global derreter os gelos do topo norte do mundo — que, dizem os cientistas, podem desaparecer completamente durante o Verão, nos próximos 20 anos.

O navio de investigação Akademik Fyodorov e o quebra-gelos nuclear Rossia, com 135 cientistas a bordo, conduziram as operações até ao ponto onde foi feito o mergulho. Os tripulantes enviaram uma mensagem para a Estação Espacial Internacional, em órbita da Terra a pouco menos de 400 quilómetros de altitude, e vão ainda aproveitar para recolher amostras do leito oceânico.

Para quê esta aventura, que um porta-voz do Presidente Vladimir Putin disse ser "de grande importância" para o czar da nova Rússia? Para ajudar a provar o argumento russo de que a plataforma continental siberiana se estende até mais 2000 quilómetros da linha da costa, ao longo da dorsal Lomonosov, uma cadeia montanhosa submarina que se estende até à Gronelândia. No total, Moscovo reclama um triângulo de cerca de 1,2 milhões de quilómetros quadrados, diz a agência noticiosa russa Ria Novosti.

Já em 2001 a Rússia reclamou este território, mas a Comissão para os Limites das Plataformas Continentais (um organismo das Nações Unidas) considerou que as suas pretensões não estavam fundamentadas.

Mas a Rússia não desistiu: em 2009, vai voltar a apresentar as suas pretensões. E, até agora, vai à frente na corrida das cinco nações que rodeiam o Círculo Polar Árctico para reclamar as riquezas que se escondem sob os gelos. Pelo sim, pelo não, a petrolífera BP já se aliou à Rosneft, a empresa estatal rusa de petróleo, para fazer prospecção de petróleo no Árctico, diz o "Financial Times".

O Canadá tem reclamado muitas vezes as suas pretensões como nação do Árctico. Mas faltam-lhe navios capazes de circular pelos perigosos canais entre o gelo do Árctico. Tem apenas um, de momento, embora o primeiro-ministro Stephen Harper tenha anunciado em Julho que ia libertar verbas para construir novos navios quebra-gelo. "A coisa mais inteligente que o Canadá podia fazer era uma declaração política que dissesse, de forma educada, que não concordamos [com a acção russa]", disse Rob Huebert, especialista no Árctico do Centro de Estudos Militares e Estratégicos, em Calgary.

O Canadá associou-se à Dinamarca — que também reclama direitos no Árctico, porque a Gronelândia está sob a sua administração — para estudar o percurso exacto da dorsal de Lomonosov e determinar os limites da plataforma continental de cada país. Mas essa investigação só deve estar concluída em 2013, anos depois da russa.

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