Ash Wednesday

Foto

"Ash Wednesday", o seu disco de estreia, é o mais aproximado de um Cohen em dia de menos ódio a si próprio ou de um Dylan menos necessitado de máscaras. O disco, que assenta arraiais e crenças no poder da sarça ardente de uma guitarra, abre com "While you were sleeping" (e não é qualquer um que arranca frases do calibre de "While you were sleeping/ the money died/ machines were harmless/ the earth sighed"), voz e guitarra, apenas depois um bombo, mais um instrumento aqui, outro ali, um "theremin", metais e uma elegia pelo 11/9 torna-se em festa. A sombra de Cohen surge em "All the night without love" naquele contrabaixo que recorda "Stories from the street" (embora também se possa falar em Tim Buckley) e em "May Day" há resquícios de Jonathan Richman, algo de puro gozo, de saltitão. Se quiséssemos, podíamos ligar "Moon woman II" aos Sparklehorse ou a uma dezena de gente mais, que usam cordas para arrepiar as costas das canções, mas para quê? O rapaz tem mérito próprio, revolvendo a terra da folk e adicionando-lhe o sal e a pimenta a contento, sem afectações na voz, sem tiques dos heróis do passado. Elvis Perkins não precisa de uma história danada para que a sua música seja valiosa. E no belíssimo duelo entre o acordeão e o violino em "Emile's Vietnam in the ski" é mais que valiosa: é imperativa e salvífica.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

"Ash Wednesday", o seu disco de estreia, é o mais aproximado de um Cohen em dia de menos ódio a si próprio ou de um Dylan menos necessitado de máscaras. O disco, que assenta arraiais e crenças no poder da sarça ardente de uma guitarra, abre com "While you were sleeping" (e não é qualquer um que arranca frases do calibre de "While you were sleeping/ the money died/ machines were harmless/ the earth sighed"), voz e guitarra, apenas depois um bombo, mais um instrumento aqui, outro ali, um "theremin", metais e uma elegia pelo 11/9 torna-se em festa. A sombra de Cohen surge em "All the night without love" naquele contrabaixo que recorda "Stories from the street" (embora também se possa falar em Tim Buckley) e em "May Day" há resquícios de Jonathan Richman, algo de puro gozo, de saltitão. Se quiséssemos, podíamos ligar "Moon woman II" aos Sparklehorse ou a uma dezena de gente mais, que usam cordas para arrepiar as costas das canções, mas para quê? O rapaz tem mérito próprio, revolvendo a terra da folk e adicionando-lhe o sal e a pimenta a contento, sem afectações na voz, sem tiques dos heróis do passado. Elvis Perkins não precisa de uma história danada para que a sua música seja valiosa. E no belíssimo duelo entre o acordeão e o violino em "Emile's Vietnam in the ski" é mais que valiosa: é imperativa e salvífica.