Belle Toujours

Não é uma "sequela" de "Belle de Jour", antes um filme que o confronta, e se confronta com os seus mistérios (um pouco como se o filme de Buñuel fosse, ele próprio, a célebre "caixinha do japonês").

Claro que Oliveira é o primeiro a saber daimpossibilidade do sucesso desse combate, e por isso deixa entrar a irrisão (mais ou menos quando deixaentrar o galo na sala de jantar, mas na verdade isso é só o sinal definitivo; a irrisão estava lá desde o princípio).

Piccoli também sabe, mas - principal traço em comum entre o Husson de Buñuel e o Husson de Oliveira - como bom sedutor sabe igualmente que o que conta é o movimento.

Isso é quase tudo o que conta aqui: a perseguição e o cerco. O jantar silencioso (extraordinária cena) é silencioso porque, no fundo, "já está"; o resto émise en scène e frustração fingida.

"Belle Toujours" é a arte do anticlimax (algo bastante oliveiriano) levada à sua máxima consequência.

E no fundo talvez seja aí, e se calhar só aí, que os dois filmes verdadeiramente se tocam.

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