Há vozes do outro mundo na Guarda

a Conhecíamos os throat singers da República de Tuva, na Rússia - pelo menos desde que os Chirgilchin vieram a Portugal na mala de Laurie Anderson, no Verão do ano passado - mas não conhecíamos os throat singers do Pólo Norte. Até hoje, dia em que a esquimó canadiana Tanya Tagaq abre o ciclo Vozes de Outro Mundo, no Teatro Municipal da Guarda: natural de Ikaluktuutiak (Cambridge Bay), ela é a primeira (e por enquanto a única) performer de uma nova geração do jogo vocal inuit, o canto tradicional dos esquimós. Na verdade, já tínhamos ouvido a voz dela: gravou a faixa Ancestors, com Björk, para o álbum que a cantora islandesa lançou em 2004, Medúlla.Até ao próximo dia 27, o Teatro Municipal da Guarda mostra mais três formas singulares de usar a voz (entre as quais o throat-singing dos Huun-Huur-Tu, da República de Tuva propriamente dita). Já amanhã, o human-beatboxer britânico Shlomo (e aqui Björk volta a ser o mínimo denominador comum: Shlomo gravou outra canção com ela, Oceania, e de resto, para o mesmo álbum) mostra como não precisa de nada, além da voz, para reproduzir o som de dezenas de instrumentos. Não é um one-man show, é um one-man band - e ele diz que consegue substituir os White Stripes, mas também os White Stripes são só dois.
O regresso a Tuva (uma remota república russa situada entre a Sibéria e a Mongólia), agora com os Huun-Huur-Tu, é no dia 20. Considerado o mais importante grupo de canto gutural tuvano, o colectivo formado em 1992 pelos músicos Kaigal-ool Khovalyg, Sayan Bapa, Radik Tolouche (Tiuliush) e Alexei Saryglar é um case-study da world music que acumula a gravação do repertório tradicional com colaborações com músicos como Frank Zappa, Ry Cooder e o Kronos Quartet, entre outros. Dois dias depois, o músico e humorista belga Bernard Massuir encerra o ciclo com o espectáculo La Voix est Libre. Em palco está ele e uma espécie de mundo paralelo construído quase totalmente a cappella - uma variante antiga de acordeão para os pés, que o avô de Massuir usava nos anos 20, faz o resto.
Paralelamente aos concertos, o Teatro Municipal da Guarda propõe um núcleo de actividades que se iniciaram esta semana, com uma oficina de construção de iglôs para crianças. O calendário para os próximos dias inclui, já amanhã à tarde, uma oficina de beatbox orientada por Shlomo, e, na terça-feira, a projecção de um dos primeiros documentários antropológicos da história do cinema Nanook, o Esquimó, de Robert Flaherty (1922).
Os bilhetes para os espectáculos, que começam sempre às 21h30, custam dez euros.

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