Carenque

Falta ganhar a última batalha

Há quase uma dúzia de anos, a 9 de Setembro de 1995, o então primeiro-ministro Cavaco Silva inaugurava a Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL) e teve a atenção de me incluir na comitiva que com ele percorreu os túneis de Carenque, sob as pegadas de dinossáurios de Pego Longo. Terminava, assim, uma primeira batalha entre os cifrões e a cultura de que esta, em boa hora, saiu vitoriosa. Mas a guerra não ficou ganha. Há, ainda, como todos sabemos, uma última que é imperioso e urgente ganhar.Passados todos estes anos, o trânsito automóvel flui sob um monumento natural classificado há dez anos mas deixado ao abandono, a degradar-se. Ganhar esta última batalha passa pela conveniente musealização do sítio, cujo projecto de arquitectura, Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo (Carenque), aprovado pela Câmara de Sintra em 2001, aguarda há seis anos verbas. A sua concretização, que deve rondar os 3,5 milhões de euros, não necessita ser encarada em bloco. Pode ser faseada, começando pelas peças mais urgentes e atractivas. Não é compreensível ter-se gasto oito milhões de euros com os túneis, para salvaguarda da jazida, e não financiar a conclusão da obra prevista no projecto e tirar dela os dividendos como potencial pólo de atracção turística. Em acréscimo deste potencial estão a situação da jazida numa região procurada por centenas de milhares de visitantes, situada na vizinhança de uma metrópole como Lisboa e servida por rodovias como o IC19 e a CREL.
Esquecidas dos poderes local e central, as pegadas de dinossáurios de Carenque estão bem vivas na mente de todos os que, como eu, sabem do que estão a falar, ou seja, os geólogos, docentes e investigadores nacionais nesta área científica e todos os especialistas internacionais que aqui acorreram, das Américas à China e à Mongólia, sem esquecer, claro, os nossos vizinhos da Europa. Estão, ainda, nos corações de todos os que respeitam os valores da Natureza.
Lembrando a sessão de 11 de Fevereiro de 1993, no Parlamento, na qual foi votada, por unanimidade, a recomendação para a salvaguarda desta jazida paleontológica, apelo ao Presidente da República, ao Governo, à autarquia sintrense e aos mecenas para que reúnam vontades e interesses a fim de que se não perca este valioso património 110 mil vezes mais antigo que Portugal. Apelo aos media e aos jornalistas, conscientes do que está em risco para que voltem a dar o indispensável apoio que deram, há uma dúzia de anos, na batalha pela abertura dos túneis. É imperioso e urgente concluir este projecto e, ensinou-me a experiência que, para o conseguir, há que cativar a opinião pública.
Todos sabemos que os dinossáurios constituem um tema de enorme atracção entre o público e que qualquer iniciativa neste domínio da paleontologia vende bem. A exposição dos dinossáurios robotizados, realizada no Museu Nacional de História Natural, bateu todos recordes ao receber 360.000 visitantes em apenas dois meses e meio. É também por isso que a Jazida de Pego Longo, convenientemente adaptada a uma oferta de turismo da natureza, de qualidade e se bem equipada e promovida, garantiria rentabilidade ao investimento que ali se fizesse. Pela minha parte, continuo a oferecer, graciosamente, o meu trabalho para a concretização deste projecto. Geólogo

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