Torne-se perito

Um piscar de olho aos anos 80

O revisitar da música portuguesa da década de 70 termina com canções populares e alguns dos primeiros temas rock em português. O CD A Música Popular/A Pré-História do Rock é editado hoje com o PÚBLICO

a A revolução da MPP e do rock português na década de 80 resultou, em parte, das sementes lançadas nos anos 70, quer pela música que bebia a sua inspiração nos temas tradicionais, quer pelos primeiros grupos ou músicos a aventurarem-se no universo rock. Por isso, o terceiro CD do volume Os Anos 70 divide-se em duas tendências da música portuguesa dessa década: a música popular e a pré-história do rock.Por um lado, na música popular, reencontramos Vitorino ou a Brigada Victor Jara, cujas carreiras se prolongam até hoje. De Vitorino, voltamos a ouvir Ó Patrão Dê-me Um Cigarro, uma canção popular alentejana que o músico gravou em Semear Salsa ao Reguinho (1975), o seu primeiro trabalho discográfico em nome próprio. Co-produzido por Fausto, o álbum ficou registado em apenas 27 horas de estúdio e, entre os seus temas, inclui ainda a primeira versão do êxito Menina Estás à Janela.
A Brigada Victor Jara, por sua vez, interpreta Marião, um tema popular da Beira Baixa. Igualmente retirada do disco de estreia do grupo, a canção conta com a voz de Né Ladeiras, que começava assim uma promissora carreira como cantora.
Seguindo o mesmo rumo de recolha de canções populares adoptada pela Brigada, o Almanaque, liderado por José Alberto Sardinha, estreou-se em 1979 com o álbum Descantes e Cantaréus. Do seu alinhamento faz parte, entre outras, La Sirigoça.
Porém, falar da música popular dos anos 70 implica ainda recordar a Banda do Casaco. Se a constante mudança de formações se tornou característica do grupo, também é verdade que o seu núcleo duro (Nuno Rodrigues, António Pinho e Celso Carvalho) foi sempre coeso. O tema tradicional Dez-Onze-Doze foi incluído em Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos (1977), que contou com a participação de músicos como Gabriela Schaaf e Rão Kyao.
A selecção de temas tradicionais chega ao fim com Ó Rama ó que Linda Rama, interpretado por Teresa Silva Carvalho numa adaptação de Vitorino, e Chula, que renasce pela voz de Shila, adaptado por Fausto e Sérgio Godinho.
Entretanto, a década de 70 marcou também as primeiras incursões de bandas portuguesas no rock. Esse foi o caso, por exemplo, dos Petrus Castrus, que se formaram em 1971, três anos antes da Revolução de Abril. Desde logo, afirmaram-se como praticantes do rock sinfónico, conseguindo em pouco tempo um contrato discográfico com a Valentim de Carvalho. Marasmo integrou o EP homónimo e foi bem recebido pela crítica.
Por sua vez, os Tantra, os UHF e os Corpo Diplomático nasceram já no pós-25 de Abril. Em 1977, Variações Sobre Uma Galáxia era um dos seis temas de rock sinfónico, cantados em português, que os Tantra editavam em álbum. O grupo tornou-se num fenómeno e, nesse mesmo ano, encheu o Coliseu. No entanto, acabaria por ficar à margem do movimento posteriormente liderado, entre outros, pelos UHF. Jorge Morreu é uma das canções do EP de estreia da banda, publicado em 1979. Quanto aos Corpo Diplomático, a banda de Pedro Ayres Magalhães, Paulo Pedro Gonçalves e Carlos Maria Trindade teve uma curta, mas marcante existência. O tema Férias foi retirado de Música Moderna (1979).
Por último, os anos 70 são também sinónimo dos primeiros trabalhos a solo de Jorge Palma. Monólogo de Um Cidadão Frustrado fez parte do LP de estreia do músico, Com Uma Viagem na Palma da Mão (1975). Não é, certamente, um dos seus temas mais conhecidos mas, por antecedê-los, acaba por prenunciar de uma carreira de grandes êxitos.

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