Shortbus

Como seria aplicar ao cinema pornográfico o método de improvisação e de "workshops" de argumento com os actores (como faziam e fazem John Cassavetes ou Mike Leigh)? O resultado desse hipotético encontro poderia ser parecido com "Shortbus" - o realizador garante: todos os orgasmos são reais. O gesto deste filme do realizador de "Hedwig and the Angry Inch" é de provocação.

Partindo da ideia de abrir aos espectadores as portas das tertúlias de música, conversa e sexo livre que (ainda) se realizam em Nova Iorque, procuradas para quem quer explorar potencialidades da sua vida sexual ou o orgasmo que ainda não atingiu, trata-se de celebrar a cidade como porto de abrigo das experiências artísticas e da vida dos"expatriados" deste mundo. E extremar uma herança, que vai do "underground" dos anos 70 a WoodyAllen (sim, porque aqui se trata de tudo o que você queria saber sobre o orgasmo que não atingiu e nuncateve coragem de perguntar).

Primeiro estranha-se, depois banaliza-se - podia ser sexo ou outra coisa qualquer. Continuando sempre a ter em conta o gesto, relevante em tempos conservadores, na América e não só, a farsa celebratória vai-se revelando sem pernas para andar.

As personagens e as neuroses não motivam, e quando assim é não há orgasmo que satisfaça. Narrativamente o filme pode ser tão frustrante como uma orgia: não se sabe a quem pertence a perna, o braço e o resto...

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