Dalila Rodrigues pode sair em Novembro do Museu de Arte Antiga se o IPM não mudar

Directora diz que o
museu não deve ser tutelado pelo IPM, porque
essa centralização
impede-o de crescer

Dalila Rodrigues, uma das mais dinâmicas directoras dos museus públicos portugueses, poderá sair em Novembro do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, no final da comissão de serviço. A directora, de 45 anos, considera também que o museu não deve continuar a ser tutelado pelo Instituto Português dos Museus, um organismo que gere os 29 museus do Ministério da Cultura. "Se o organismo que substituir o IPM continuar esta prática de centralização e impedir a realização de um trabalho à altura do MNAA, terei de ponderar se vale a pena continuar depois de Novembro, o fim da comissão de serviço", disse ontem ao PÚBLICO Dalila Rodrigues, numa conversa a propósito da programação de exposições temporárias para este ano.
No ano passado, o MNAA, que é o maior museu do IPM, teve 192.417 visitantes, tendo crescido 86 por cento. Na actual reforma da administração pública (ver texto na pág. 35), o IPM é fundido com o actual Instituto Português de Conservação e Restauro e dá origem ao Instituto dos Museus e da Conservação.

Programação aprovada há dias
O MNAA vai inaugurar já a 1 de Março uma exposição com a colecção de pintura e escultura medieval do Museu Nacional de Varsóvia, uma itinerância internacional, mas da sua programação faz também parte uma exposição sobre tapetes orientais em Portugal no século XVI e XVII e a sua representação na pintura da mesma época, comissariada por Jessica Hallen e Teresa Pacheco Pereira.
"Apesar do apoio mecenático do Millenium bcp, no montante anual de 500 mil euros, de 2006 a 2008, tive que esperar até 30 de Janeiro para saber efectivamente que exposições estou autorizada a realizar este ano. Também os museus com apoios mecenáticos estão impedidos de assumir compromissos plurianuais", afirmou Dalila Rodrigues.
Ontem, o director do IPM, Manuel Bairrão Oleiro, não quis comentar a possível indisponibilidade da directora para mais uma comissão de serviço, mas disse que o mecenato do banco, no valor total de 600 mil euros, é também para o Museu Soares do Reis, no Porto. Ou seja, 500 mil euros para o MNAA, durante os três anos, "nunca foi o entendimento que esteve em cima da mesa". Esse, diz Oleiro, foi o valor do MNAA em 2006, verba que também serviu para pagar uma prestação da exposição do Museu de Varsóvia, que agora vai inaugurar em 2007, um exemplo de que é possível fazer programação plurianual quando há mecenato.
"O actual modelo de gestão, que centraliza no IPM a gestão de toda a receita angariada mas também os apoios mecenáticos, constitui um travão ao desenvolvimento. O que eu contesto - e considero imperativo para o salto qualitativo que o museu tem de dar - é a gestão centralizado do IPM. O Museu Nacional de Arte Antiga não deve ser tutelado pelo IPM", disse ontem ao PÚBLICO Dalila Rodrigues.

Projecto com Rui Sanches por aprovar
A directora diz que a programação do MNAA para este ano não foi aprovada na sua totalidade e, por isso, não é possível apresentá-la já. Dalila Rodrigues diz que, há um ano e meio, assumiu compromissos com o artista Rui Sanches, depois do apoio do Millenium bcp, e esse projecto não foi aprovado. "É particularmente doloroso trabalhar nesta condições", afirma.
Dalila Rodrigues diz que estas dificuldades também se verificaram nos últimos anos, mas a programação não foi aprovada tão tarde. "Não assumiu idêntica gravidade, não apenas porque o atraso deste ano foi excessivo, mas também porque a minha expectativa era diferente por causa do apoio mecenático assinado no final de 2005. Cancelei compromissos para 2008 porque não posso ser confrontada com a possibilidade de novos cancelamentos." O director do IPM diz que o atraso não é assim tão grande em relação aos anos anteriores. "A programação é geralmente comunicada no início de Janeiro", diz Bairrão Oleiro, reconhecendo que, "idealmente, deveria ser comunicada com mais antecedência", mas o orçamento do ministério só é conhecido no final do ano.
Dalila Rodrigues diz que, quando aceitou dirigir o MNAA, contava com dificuldades: "Designadamente com a inexistência de meios para realizar a programação e um trabalho que os museus e os públicos merecem que seja feito, por isso me empenhei tanto em 2005 em encontrar mecenas que suportassem a existência do MNAA".

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