Estudo confirma que excesso de trabalho aumenta risco de erro médico

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Em Portugal a legislação define desde 1990 que o horário dos médicos tem 42 horas semanais Francisco Neves/Lusa (arquivo)

De acordo com uma investigação publicada recentemente no jornal "Public Library of Science Medicine", os médicos que realizam cinco ou mais turnos de 24 horas durante um mês correm um risco sete vezes superior de cometer erros no desempenho das suas funções e têm cinco vezes mais hipóteses de cometer erros que podem resultar na morte dos doentes.

Confrontado com estes resultados, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, reconheceu que este é um problema antigo que preocupa a organização a que preside.

Segundo Pedro Nunes, Portugal tem uma legislação própria para esta matéria desde 1990, que define o horário dos médicos em 42 horas semanais, das quais 12 podem ser realizadas em serviço de urgência e mais 12 em horas extraordinárias.

Médicos querem ganhar mais

Contudo, "a falta de médicos e a maior liberdade de contratação de que usufruem os hospitais-empresa podem levar a que estes horários sejam altamente ultrapassados", disse.

"Os médicos querem trabalhar mais para ganhar mais e os hospitais querem mais médicos", explicou, em declarações à Lusa.

Pedro Nunes lembra os riscos associados ao excesso de horas de trabalho nos serviços de urgência, principalmente porque este é "a frente de combate" contra a doença.

As urgências são "o local onde a lucidez é mais necessária", disse, acrescentando que, ao final de 24 horas aumenta o risco de serem cometidos erros.

O médico recorda que esta é uma profissão de grande "stress", pois "os médicos têm a vida nas mãos e qualquer erro pode ser fatal".

O bastonário alerta para a necessidade de descanso destes profissionais, principalmente após a realização dos turnos.

Perturbações do sono frequentes

Um outro estudo, publicado no ano passado pela "Revista Portuguesa de Clínica Geral", analisou os hábitos de sono em médicos de família, concluindo que "as perturbações do sono são frequentes em médicos".

A investigação apurou que existe uma "elevada percentagem de médicos de família a dormir menos horas que aquelas que consideram o ideal para si".

"Existe uma proporção significativa que considera o seu sono não repousante” e a insónia é “um problema frequente". Estes profissionais também recorrem com alguma frequência ao consumo de estimulantes.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, o excesso de trabalho dos médicos é grave em qualquer especialidade.