Estudo: 60 por cento das notícias sobre política são induzidas por fontes profissionais

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O PÚBLICO e o Diário de Notícias são os que menos recorrem ao chamado jornalismo de secretária Miguel Silva/PÚBLICO (arquivo)

O estudo — que é a tese de mestrado do docente da Universidade do Porto Vasco Ribeiro — indica que apenas 28 por cento das notícias das secções de Política resultam da iniciativa dos jornalistas, enquanto que nos restantes 12 por cento não foi possível identificar quem motivou a cobertura noticiosa.

Vasco Ribeiro, que foi assessor de comunicação do ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso e do candidato socialista à mesma autarquia Francisco Assis, analisou as secções de política do "Diário de Notícias", do "Jornal de Notícias", do "Correio da Manhã" e do PÚBLICO em semanas interpoladas de quatro anos: 1990, 1995, 2000 e 2005.

Jornais tratam poder e oposição com equidade

O investigador concluiu que 60 por cento do noticiário político é dominado pelas fontes do Governo e dos partidos representados na Assembleia da República e que os jornais analisados dão a mesma visibilidade às forças políticas no poder e na oposição.

"Prova-se, assim, que os quatro grandes diários portugueses tratam com equidade jornalística os dois grandes pesos da balança política: poder e oposição, embora esta última esteja dividida em vários partidos", salienta Vasco Ribeiro.

O actual director de comunicação da reitoria da Universidade do Porto concluiu também que "os jornalistas portugueses são cuidadosos e comedidos no que concerne aos graus de confidencialidade utilizados na construção de notícias", dado que 80 por cento do noticiário político impresso tem fonte atribuída.

"Diário de Notícias" e PÚBLICO "são os que mais recorrem a fontes anónimas", o que, para o investigador, significa que estes dois jornais de referência são os que "mais procuram fugir à informação intencionalmente colocada no espaço público".

Segundo o mesmo estudo, estes dois diários são também os que apresentam maior índice de cobertura noticiosa por iniciativa própria, evidenciando "menor predisposição para o 'jornalismo de secretária', que consiste na recepção passiva da informação proveniente das fontes profissionais".

Cidadãos anónimos têm "um exíguo protagonismo"

O investigador concluiu ainda que mais de 90 por cento dos fornecedores de informação identificados são fontes oficiais, registando-se "um exíguo protagonismo" do cidadão anónimo, enquanto fonte, no noticiário político dos quatro diários.

"A população praticamente só é alvo de exposição mediática durante as campanhas eleitorais e por motivos pouco lisonjeiros", afirma, salientando que, tal como na televisão, os cidadãos anónimos surgem na imprensa "tão-só para ornamentar e ritmar as notícias".

Outro dado resultante do estudo é "a incapacidade do consumidor das notícias de detectar a intervenção dos técnicos de comunicação e relações públicas na construção das mesmas", porque "só em 1,3 por cento do total das notícias analisadas foram identificadas fontes profissionais de informação".

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