Sonaecom garante que não abriu negociações com o BES ou com a Portugal Telecom

É provável que a Sonaecom não mexa nos termos da oferta comunicada ao mercado em Fevereiro de 2006, mantendo o preço inalterado nos 9,5 euros por acção
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É provável que a Sonaecom não mexa nos termos da oferta comunicada ao mercado em Fevereiro de 2006, mantendo o preço inalterado nos 9,5 euros por acção Steve Governo/AP (arquivo)
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A Sonaecom veio reafirmar ontem o que sempre tem dito: não discutiu ainda formalmente a alteração ao preço da OPA e está mais inclinada para baixar a oferta, fixada nos 9,5 euros, que para a aumentar, tendo em conta a degradação do desempenho dos indicadores operacionais e financeiros da operadora. Um esclarecimento que a empresa se viu obrigada a fazer a pedido do regulador, na sequência de uma notícia publicada pelo Diário Económico, onde é afirmado, em manchete, que a Sonaecom admite subir o preço.

As dúvidas sobre o preço só irão desfazer-se na altura do registo definitivo da OPA, previsto para 2 de Janeiro de 2007. Porém, segundo o PÚBLICO apurou, o mais provável é que a Sonaecom não venha a mexer nos termos da oferta comunicados preliminarmente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) em Fevereiro de 2006, na altura do lançamento da OPA. E, se assim for, não haverá mexida no preço - aliás, a Sonaecom tem argumentado que manter a OPA nos 9,5 euros por acção é o mesmo que subir a oferta nove cêntimos, tendo em conta o aumento do dividendo relativo ao exercício de 2005, decidido já depois de lançada a OPA. Uma possibilidade que certamente desagradará ao maior accionista da PT, o BES (8,6 por cento), uma vez que o presidente do banco, Ricardo Salgado, disse na semana passada ao Expresso: "Não será fácil uma subida que convença o BES a vender."

A Sonaecom garantiu ao PÚBLICO que não houve nenhuma reunião formal, nem foi aberto qualquer processo negocial sobre a OPA com a administração da PT ou o BES, admitindo, todavia, existirem encontros pontuais relacionados com outros temas. Luís Reis esclareceu entretanto que o facto de a Sonaecom deter um por cento da PT, e de a Sonae ter relações de clientela com o BES, assim como de cordialidade e até de amizade com algumas pessoas envolvidas na operação, é natural que haja encontros entre ambas as equipas. Esclareceu ainda que a reunião do conselho de administração da Sonaecom para decidir os termos definitivos da oferta, entretanto suspensa, será retomada depois da decisão da AdC.

A grande linha de argumentação de defesa da administração da PT, disse Luís Reis, é hoje tentar converter a OPA de hostil em amigável, de forma a obter uma contrapartida financeira maior. O presidente da PT, acrescentou Luís Reis, tem admitido estar em condições de recomendar aos accionistas a venda, desde que por um preço melhor. Uma afirmação que não terá agradado a Henrique Granadeiro, que mais tarde, em declarações à Lusa, veio dizer que é "disparatado" o entendimento de que possa estar disposto a aconselhar a venda se o preço subir.

Hoje 50 por cento vendia

Luís Reis disse ainda que tem a "convicção firme" de que, se a OPA se realizasse hoje a 9,5 euros por acção, "mais de metade" dos accionistas venderia. E lembrou, a condição de sucesso da OPA é apenas a compra de 50 por cento do capital da PT. O gestor sublinhou a tranquilidade da Sonaecom face à disponibilidade dos accionistas da PT em convocar a assembleia geral (AG) para desblindagem dos estatutos, que limita o uso do direito de voto a 10 por cento. Este é um dos próximos e dos maiores obstáculos que a Sonaecom terá de enfrentar, uma vez que há a ideia no mercado de que poderá haver um conjunto de accionistas contra a OPA com suficiente capital para travar a desblindagem. Granadeiro já disse que está disponível para convocar a AG, ao abrigo das regras norte-americanas, que obriga à convocatória da reunião 40 dias antes da sua realização.

Custos 30 por cento acima das melhores práticas

O grande foco da atenção estará hoje centrado na decisão final da AdC, cujo sentido será, ao que tudo indica, o de aprovar a operação de concentração entre a Sonaecom e a PT. Uma posição que tem merecido o ataque cerrado da PT e da Vodafone, que alegam ser inadmissível a autorização da fusão entre a TMN e a Optimus por uma questão de excessiva concentração. No último documento de resposta da PT à AdC, a operadora acusa mesmo o regulador de violar a lei da concorrência nacional e comunitária. A Vodafone já ameaçou recorrer da decisão da AdC para o tribunal.

O PÚBLICO apurou entretanto que um dos estudos económicos que serviram de base à decisão da AdC foi feito pela The University of New York, análise pedida antes ainda do lançamento da OPA, numa altura em que a entidade já analisava os constrangimentos de concorrência no sector das telecomunicações, há muito prometido por Abel Mateus. O estudo apontava uma de duas soluções para resolver o défice de concorrência nas comunicações fixas: a separação das redes de cobre e de cabo por grupos de accionistas diferentes ou a separação efectiva entre os negócios retalhista e grossista da rede de cobre, criando uma empresa que estaria para as telecomunicações fixas como a Rede Eléctrica Nacional está para o sector eléctrico.

O trabalho concluía ainda que a posição dominante da PT no mercado não é favorável ao aumento da sua eficiência, dado que o nível de custos do grupo se encontra 30 por cento acima daquilo que são as melhores práticas europeias em empresas comparáveis.

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