Sonaecom garante que não abriu negociações com o BES ou com a Portugal Telecom
A Sonaecom veio reafirmar ontem o que sempre tem dito: não discutiu ainda formalmente a alteração ao preço da OPA e está mais inclinada para baixar a oferta, fixada nos 9,5 euros, que para a aumentar, tendo em conta a degradação do desempenho dos indicadores operacionais e financeiros da operadora. Um esclarecimento que a empresa se viu obrigada a fazer a pedido do regulador, na sequência de uma notícia publicada pelo Diário Económico, onde é afirmado, em manchete, que a Sonaecom admite subir o preço.
As dúvidas sobre o preço só irão desfazer-se na altura do registo definitivo da OPA, previsto para 2 de Janeiro de 2007. Porém, segundo o PÚBLICO apurou, o mais provável é que a Sonaecom não venha a mexer nos termos da oferta comunicados preliminarmente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) em Fevereiro de 2006, na altura do lançamento da OPA. E, se assim for, não haverá mexida no preço - aliás, a Sonaecom tem argumentado que manter a OPA nos 9,5 euros por acção é o mesmo que subir a oferta nove cêntimos, tendo em conta o aumento do dividendo relativo ao exercício de 2005, decidido já depois de lançada a OPA. Uma possibilidade que certamente desagradará ao maior accionista da PT, o BES (8,6 por cento), uma vez que o presidente do banco, Ricardo Salgado, disse na semana passada ao Expresso: "Não será fácil uma subida que convença o BES a vender."
A Sonaecom garantiu ao PÚBLICO que não houve nenhuma reunião formal, nem foi aberto qualquer processo negocial sobre a OPA com a administração da PT ou o BES, admitindo, todavia, existirem encontros pontuais relacionados com outros temas. Luís Reis esclareceu entretanto que o facto de a Sonaecom deter um por cento da PT, e de a Sonae ter relações de clientela com o BES, assim como de cordialidade e até de amizade com algumas pessoas envolvidas na operação, é natural que haja encontros entre ambas as equipas. Esclareceu ainda que a reunião do conselho de administração da Sonaecom para decidir os termos definitivos da oferta, entretanto suspensa, será retomada depois da decisão da AdC.
A grande linha de argumentação de defesa da administração da PT, disse Luís Reis, é hoje tentar converter a OPA de hostil em amigável, de forma a obter uma contrapartida financeira maior. O presidente da PT, acrescentou Luís Reis, tem admitido estar em condições de recomendar aos accionistas a venda, desde que por um preço melhor. Uma afirmação que não terá agradado a Henrique Granadeiro, que mais tarde, em declarações à Lusa, veio dizer que é "disparatado" o entendimento de que possa estar disposto a aconselhar a venda se o preço subir.
Hoje 50 por cento vendiaLuís Reis disse ainda que tem a "convicção firme" de que, se a OPA se realizasse hoje a 9,5 euros por acção, "mais de metade" dos accionistas venderia. E lembrou, a condição de sucesso da OPA é apenas a compra de 50 por cento do capital da PT. O gestor sublinhou a tranquilidade da Sonaecom face à disponibilidade dos accionistas da PT em convocar a assembleia geral (AG) para desblindagem dos estatutos, que limita o uso do direito de voto a 10 por cento. Este é um dos próximos e dos maiores obstáculos que a Sonaecom terá de enfrentar, uma vez que há a ideia no mercado de que poderá haver um conjunto de accionistas contra a OPA com suficiente capital para travar a desblindagem. Granadeiro já disse que está disponível para convocar a AG, ao abrigo das regras norte-americanas, que obriga à convocatória da reunião 40 dias antes da sua realização.
Custos 30 por cento acima das melhores práticasO grande foco da atenção estará hoje centrado na decisão final da AdC, cujo sentido será, ao que tudo indica, o de aprovar a operação de concentração entre a Sonaecom e a PT. Uma posição que tem merecido o ataque cerrado da PT e da Vodafone, que alegam ser inadmissível a autorização da fusão entre a TMN e a Optimus por uma questão de excessiva concentração. No último documento de resposta da PT à AdC, a operadora acusa mesmo o regulador de violar a lei da concorrência nacional e comunitária. A Vodafone já ameaçou recorrer da decisão da AdC para o tribunal.
O PÚBLICO apurou entretanto que um dos estudos económicos que serviram de base à decisão da AdC foi feito pela The University of New York, análise pedida antes ainda do lançamento da OPA, numa altura em que a entidade já analisava os constrangimentos de concorrência no sector das telecomunicações, há muito prometido por Abel Mateus. O estudo apontava uma de duas soluções para resolver o défice de concorrência nas comunicações fixas: a separação das redes de cobre e de cabo por grupos de accionistas diferentes ou a separação efectiva entre os negócios retalhista e grossista da rede de cobre, criando uma empresa que estaria para as telecomunicações fixas como a Rede Eléctrica Nacional está para o sector eléctrico.
O trabalho concluía ainda que a posição dominante da PT no mercado não é favorável ao aumento da sua eficiência, dado que o nível de custos do grupo se encontra 30 por cento acima daquilo que são as melhores práticas europeias em empresas comparáveis.