Primeiro-ministro palestiniano acusa presidente de contribuir para isolamento do Governo
“Esta nação, este povo deve estar unido face à ocupação e à agressão e não deve envolver-se, apesar das feridas dos últimos dias, em combates internos”, afirmou Haniyeh, num discurso transmitido pela televisão palestiniana.
Pelo menos dez pessoas, na maioria activistas, morreram nos confrontos que nos últimos quatro dias opuseram as forças da Fatah aos milicianos do Hamas. Os combates – que já se adivinhavam há algumas semanas – intensificaram-se depois do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, ter anunciado a convocação de eleições antecipadas, face ao fracasso das negociações para a formação de um governo de unidade nacional.
Interpelando directamente os activistas da Fatah e do Hamas, o primeiro-ministro afirmou: “esta batalha não deve ser a vossa. O vosso sangue é precioso e deveis preservar a vossa unidade” .“Peço a todos que dêem mostras de contenção e calma e não recorram às armas como forma de resolver os conflitos”, acrescentou.
Críticas a AbbasDurante a intervenção, que se prolongou por hora e meia, Haniyeh reafirmou que o Hamas se opõe à decisão de Abbas, a quem responsabilizou pela instabilidade dos últimos dias. “Essa decisão é inconstitucional e arrisca-se a fazer-nos voltar dez anos atrás. Nós rejeitamos este apelo e insistimos na necessidade de respeitar a escolha do povo palestiniano”, que em Janeiro elegeu o Hamas.
O primeiro-ministro foi mais longe e acusou o líder palestiniano de ter contribuído para o isolamento do seu Governo, privado de fundos internacionais devido à recusa em reconhecer o Estado de Israel. O isolamento do Hamas contribuiu para um reforço da posição de Abbas, visto por Israel e pela comunidade internacional como único interlocutor credível nas negociações de paz.
“Desde a nossa chegada ao Governo, fomos confrontados com um bloqueio económico e financeiro e com tentativas de isolamento político”, recordou, afirmando que “durante os últimos nove meses, Abbas não se reuniu uma única vez com o Governo.
O primeiro-ministro deixou ainda no ar a suspeita que o líder palestiniano estará a cooperar numa estratégia para derrubar o Hamas, promovida pelos EUA. “Existe uma decisão não declarada de fazer cair este Governo. Essa política é levada a cabo pelos americanos”, afirmou.
Apesar das críticas, Haniyeh deixou um espaço para a reconciliação, ao declarar que “só através do diálogo será possível resolver as divergências” e “preservar a unidade nacional”. Garantiu ainda que o Hamas continua empenhado na formação de um governo de unidade nacional com a Fatah, apesar do impasse em que caíram as negociações, após vários meses de contactos.