Luandino Vieira em Lisboa para lançar os seus dois últimos livros

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Luandino Vieira disse que mais importante que a literatura é a questão da cidadania António Cotrim/Lusa

"Do modo como eu a encaro, [a literatura é] vital para a minha pessoa, por ser uma expressão da criatividade humana, uma das artes, e só por esse motivo a vou praticando, como pratico outras artes: a da jardinagem, a do pastoreio com animais, por exemplo", afirmou o escritor.

Após décadas de silêncio, o vencedor do Prémio Camões 2006 - distinção que recusou "por razões pessoais, íntimas" - publicou agora "De Rios Velhos e Guerrilheiros - O Livro dos Rios", o primeiro volume de uma triologia, que classificou como "um livro exclusivamente literário", e "A Guerra dos Fazedores de Chuva com os Caçadores de Nuvens - Guerra para Crianças", ambos com a chancela da editorial Caminho.

Luandino Vieira agradeceu aos amigos presentes e salientou que "mais importante que a literatura" é "a questão da cidadania, como hoje se diz", referida pelo seu editor, Zeferino Coelho, na apresentação do romance, narrado por um guerrilheiro que percorre o rio angolano Kwanza.

"Algo que é, para mim, mais importante que a literatura (...) é a questão da minha participação no movimento de libertação da nossa terra, de Angola".

Nascido em Portugal, na Lagoa do Furadouro, a 4 de Maio de 1935, José Luandino Vieira é cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional e contribuição para o nascimento da República Popular de Angola.

Durante a infância e a juventude, viveu em Luanda, onde frequentou e concluiu o ensino secundário.

Teve diversas profissões até ser preso, em 1959, no âmbito do "Processo dos 50", foi depois libertado e em seguida, em 1961, novamente preso e condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança.

Em 1954, transferiram-no para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou oito anos, e foi libertado em 1972, tendo sido colocado em regime de residência vigiada, em Lisboa.

Começou nessa altura a publicar da sua obra, quase toda escrita nas várias prisões por onde passou.

Depois da independência de Angola, foi nomeado para a Televisão Popular de Angola, que organizou e dirigiu entre 1975 e 1978, para o Departamento de Orientação Revolucionária (DOR) do MPLA, que dirigiu até 1979 e para o Instituto Angolano de Cinema (IAC) que chefiou entre 1979 e 1984.

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu a função de secretário-geral desde a fundação, a 10 de Dezembro de 1975, até Dezembro de 1980.

Foi secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, entre 1979 e 1984, e novamente secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, entre 1985 e 1992.

Após o fracasso das primeiras eleições angolanas, em 1992, e o recrudescimento da guerra civil, Luandino Vieira abandonou a vida pública, passando a dedicar-se exclusivamente à literatura.