Adolescentes usam mais o preservativo e fumam menos
Por outro lado, a forma como os adolescentes se alimentam degradou-se - só um quarto diz comer vegetais todos os dias e são menos os que referem tomar sempre o pequeno-almoço. A pergunta óbvia é: afinal, os adolescentes portugueses estão mais ou menos saudáveis? Mas os resultados de um inquérito feito em Janeiro a quase cinco mil alunos dos 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14 anos, oferecem sinais contraditórios.
O relatório preliminar, a que o PÚBLICO teve acesso, chama-se A Saúde dos Adolescentes Portugueses. A pesquisa é feita pela terceira vez em Portugal, e a informação recolhida deverá, como sempre, integrar o Health Behaviour in School-aged Children - um estudo da Organização Mundial de Saúde realizado de quatro em quatro anos por uma rede europeia de profissionais ligados à saúde e à educação que procuram estudar "os estilos de vida dos adolescentes e os seus comportamentos nos vários cenários da sua vida".
Elas, mais do que eles, fumam todos os diasO estudo internacional, que permitirá comparações entre países, só deverá estar pronto dentro de um ano. Para já, Margarida Gaspar de Matos, investigadora da Faculdade de Motricidade Humana e coordenadora da investigação em Portugal, sublinha que o inquérito aplicado este ano revela que "há vários indicadores que apontam para uma inversão do desaire de 2002" - altura em que tanto em matéria de consumos de substâncias, como de hábitos capazes de prejudicar a saúde e o bem-estar dos jovens, a situação portuguesa tinha piorado.
Agora há várias boas notícias, de acordo com a investigadora: "Há muito mais utilização do preservativo e a descida do consumo do tabaco é fantástica, por exemplo."
Actualmente, cinco por cento dos adolescentes são fumadores diários - há quatro anos a percentagem era de 8,5 por cento; em 1998 atingia os 5,9 por cento. Ao contrário do que se passava em 2002, já há mais raparigas do que rapazes a consumir diariamente tabaco.
No grupo dos "16 anos ou mais" a taxa de fumadores diários sobe para 15 por cento; era, em 2002, de 23 por cento. À pergunta "Já experimentaste tabaco?" 32,8 por cento dos adolescentes dizem que sim; em 2002 a percentagem era de 37,1 por cento.
Quase um quarto dos jovens teve relações sexuais"Claramente começa a haver um desprestígio social associado ao tabaco. Já não é tão trendy fumar", diz Margarida Matos. "Conseguiu-se uma coisa muito engraçada com os adolescentes, que foi apelar para coisas como o facto de o tabaco tornar a pele seca ou provocar mau hálito... questões que são muito imediatas e que têm repercussões na imagem do corpo, que é algo com que os adolescentes se preocupam."
A utilização do preservativo é outro dos aspectos muito valorizados por Margarida Matos. Que explica: o número de adolescentes dos 8.º e 10.º anos que dizem já ter tido relações sexuais mantém-se idêntico (22,7 por cento, contra 23,7 por cento em 2002). Mas, dentro deste universo, a percentagem dos que dizem que na última relação sexual não utilizaram preservativo diminuiu em relação a 2002 - há quatro anos 29,9 por cento fizeram saber que não tinha usado preservativo; agora são 18,9 por cento.
"Algumas pessoas poderão ler nisto o seguinte: "Tanto chatearam os miúdos que agora todos usam preservativo", mas é preciso dizer que não aumentou o número de jovens nestas idades a iniciar a sua vida sexual. Os que iniciaram é que usam mais o preservativo", continua a psicóloga. "A ideia de que é melhor esconder a sexualidade dos jovens, porque se sabem muito do assunto vão a correr experimentar, não é de todo verdade."
Quanto às más notícias do relatório, o abuso do álcool é uma delas. Se o consumo diário de álcool se mantém com valores idênticos ao longo dos anos (entre 0,5 e 1 por cento reportam consumos diários, conforme as bebidas sobre as quais é feita a pergunta), são cada vez mais os que dizem já ter estado embriagados quatro vezes ou mais - em 1998 a taxa era de 4,2 por cento; em 2002 de 5,3 por cento; em 2006 de seis por cento. "É uma percentagem muito pequena, mas é um padrão" ao qual se deve prestar atenção, diz Margarida Matos. Até porque no grupo etário dos "16 ou mais anos" a taxa já é de quase 20 por cento.