Maria José Morgado: "Acreditem no Ministério Público, na polícia e nos tribunais"

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Maria José Morgado retoma funções operacionais após saída da PJ, onde dirigiu a investigação a Vale e Azevedo Miguel Madeira/PÚBLICO (arquivo)

Maria José Morgado retoma funções operacionais 52 meses depois de se ter demitido do cargo de responsável da Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira (DCICCEF) da Polícia Judiciária. A procuradora-geral adjunta irá, a partir de hoje, fazer o que mais gosta: trabalhar em equipa, dinamizar esforços de magistrados e de investigadores e a sua tarefa visa esclarecer situações suspeitas no mundo do futebol, mas também em alguns sectores da administração pública.

O universo em que a antiga directora nacional adjunta vai penetrar já foi suficientemente caracterizado pela magistrada em declarações públicas, das quais se destacam alusões ao crime económico no mundo do futebol. Uma actividade de que Maria José Morgado tem uma ideia muito pouco abonatória, como resulta da sua declaração: "O futebol é um mundo de dinheiros sujos."

Coincidindo com o início da instrução do processo principal do Apito Dourado, as revelações feitas por Carolina Salgado trouxeram para a ribalta o caso que abalou há cerca de 30 meses o mais popular fenómeno desportivo.

As funções de Maria José Morgado envolvem um vasto leque de situações constantes dos 81 certidões extraídas do processo principal. E que, apesar de alguns arquivamentos, geraram inquéritos relacionados com os bastidores do futebol, mas também das autarquias e de um dos mais avultados investimentos realizados nos últimos anos em Portugal: o metro do Porto.

Livro de Carolina e fugas de informação

Uma das preocupações da magistrada do MP será, pelo seu significado, tentar esclarecer a agressão que vitimou o ex-vereador do PS na Câmara Municipal de Gondomar, Ricardo Bexiga, em 25 de Janeiro de 2005. O inquérito estava num impasse, até Carolina Salgado dizer o que disse, em declarações ao semanário Sol e na sua autobiografia. A ex-namorada de Pinto da Costa apontou como mandante o presidente do FC do Porto, mas assumiu igualmente que foi ela quem contratou os dois indivíduos que espancaram o actual vice-presidente do Instituto Nacional da Habitação. E a quem entregou o dinheiro.

A coordenadora das investigações do Apito Dourado deverá no imediato definir uma estratégia para esta investigação e a atitude que as autoridades devem adoptar perante Carolina Salgado, que tem prestado declarações a investigadores da DCICCEF nos últimos dois meses. Neste departamento, recorde-se, estão pendentes outras situações relacionadas com o futebol, nomeadamente as transferências de João Pinto para o Sporting e de Mantorras para o Benfica.

Quem conhece Maria José Morgado admite que a PGA deverá tentar apurar rapidamente o que, de facto, sabe Carolina Salgado, seja relativamente às agressões de que foi vítima Ricardo Bexiga, mas também noutros domínios, devido aos intensos contactos que teve com os bastidores do futebol nos últimos anos. E os dois anos em que dirigiu a DCICCEF habilitaram Maria José Morgado com um conhecimento da mentalidade dos investigadores e sobre a melhor forma de potenciar as suas aptidões para o combate ao crime.

Nesta nova fase da sua carreira, a antiga directora nacional adjunta da PJ deverá igualmente manter-se fiel às ideias que a levam a preconizar investigações cirúrgicas e a rejeitar megaprocessos. Uma experiência que aplicou em várias situações, como no caso de João Vale e Azevedo, alvo de inquéritos relacionados com situações muito específicas, algumas das quais já julgadas e transitadas, e que resultaram em condenações efectivas. Mas também noutras investigações igualmente sensíveis que a sua saída da PJ impediu de concretizar, nomeadamente na chamada criminalidade de colarinho branco.

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