Dirigente do Hamas acusa presidente palestiniano de fomentar a guerra civil

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A guarda presidencial disparou a noite passada contra a comitiva do primeiro-ministro Adel Hana/AP

"Mahmoud Abbas está a desencadear uma guerra, primeiro contra Alá e depois contra o Hamas", declarou Khalil al-Hayya, líder parlamentar do movimento islamista, perante os mais de cem mil simpatizantes reunidos no estádio Yarmuk, em Gaza.

O comício, destinado a celebrar o 19º aniversário do Hamas, constituiu uma demonstração de poder do movimento, numa altura em que se aguarda com grande expectativa uma declaração do líder da Autoridade Palestiniana.

Na intervenção, prevista para amanhã, Abbas deverá pronunciar-se sobre a eventual realização de eleições antecipadas, uma medida proposta pela Organização de Libertação da Palestina (OLP, organização histórica que agrupa os movimentos nacionalistas) perante o fracasso das negociações entre a Fatah e o Hamas para a formação de um governo de unidade nacional.

Antecipando este discurso, Hayya avisou que o Hamas "não aceitará um referendo [ao Governo eleito em Janeiro] ou eleições legislativas antecipadas", mas escusou-se a revelar que medidas o movimento poderá adoptar se Abbas insistir no escrutínio.

Os islamistas, à frente de um Governo a braços com um impasse político e uma grave crise financeira, alegam que o presidente palestiniano não tem legitimidade para convocar eleições e acusam o partido que dirige de "tentativa de golpe de Estado".

A tensão política que se vive nos territórios palestinianos, em particular na Faixa de Gaza, onde o Hamas tem as suas principais bases de apoio, ganhou a noite passada novos contornos, quando a comitiva em que seguia o primeiro-ministro foi atingida por disparos da guarda presidencial, junto ao terminal de Rafah.

Ismail Haniyeh saiu ileso do incidente, que custou a vida a um dos seus guarda-costas, mas o Hamas apressou-se a acusar o general Muhammad Dahlan, homem forte da Fatah, de ter ordenado a "tentativa de assassinato".

"Sabemos quem abriu fogo e prometemos que eles serão castigados. Mas por agora basta-lhes saber que deixarão de ter descanso ou de poder dormir descansados em suas casas", afirmou Mahmoud al-Zahar, chefe da diplomacia palestiniana, durante o comício em Gaza.

Por seu lado, Haniyeh, recebido em apoteose no estádio Yarmuk, preferiu apelar à "unidade nacional" dos palestinianos, mas absteve-se de exigir a trégua nas acções armadas, como fez em anteriores discursos.

A Fatah já negou qualquer tentativa para atingir o primeiro-ministro, atribuindo o incidente da noite passada à confusão gerada no terminal de Rafah, ocupado por militantes do Hamas e que acabaram por conseguir que a comitiva de Haniyeh regressasse a Gaza.

A caravana de veículos esteve várias horas bloqueada na parte egípcia da fronteira, depois de Israel ter ordenado o encerramento do terminal para impedir a entrada do primeiro-ministro, que transportava consigo 35 milhões de euros angariados durante um périplo por países árabes.

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