Ahmadinejad enfrenta hoje o seu primeiro teste eleitoral no Irão
Mais de 46 milhões de iranianos votam hoje nas terceiras eleições municipais da história da República Islâmica, elegendo, em simultâneo, a Assembleia de Peritos, órgão com poderes para designar, supervisionar e até demitir o guia supremo.
Apesar das prerrogativas, a escolha dos 86 membros desta Assembleia com mandato de oito anos não desperta grande interesse por parte do eleitorado - o grupo de peritos, que só se reúne duas vezes por ano, é acusado de não levar a sério a responsabilidade de supervisionar a actuação do guia supremo. Ao mesmo tempo, cabe ao Conselho dos Guardiães, nomeado pelo próprio guia supremo, actualmente o grande ayatollah Ali Khamenei, aprovar os candidatos à Assembleia. "É um círculo vicioso", explica Mehdi Khalaji, perito do Washington Institute for Near East Policy, citado no site do Council on Foreign Relations, think tank de Nova Iorque.
Outros analistas notam que a constituição da assembleia não deixa de ser importante, essencialmente porque há duas tradições conservadoras principais e o voto pode servir para fortalecer uma ou outra. De um lado estão os conservadores mais tradicionalistas e liberais em áreas comerciais ou de política externa, representados aqui pelo antigo presidente Hashemi Rafsanjani; de outro, os mais jovens e populistas, rotulados de ala fundamentalista, e associados ao ayatollah Mohammed Taghi Mesbah-Yazdi, considerado mentor de Ahmadinejad.
As eleições anteriores para a Assembleia de Peritos tiveram participações mais baixas do que outras eleições no Irão: é também por isso que desta vez ocorrem em simultâneo com as municipais.
Vão a votos conselhos em cidades e vilas de todo o país, com as atenções de conservadores e reformistas concentradas na capital. Os conselhos têm algum grau de autonomia, dispondo de pequenos orçamentos e cabendo-lhes a escolha dos presidentes de câmara. Mas acima de tudo, têm provado ser um barómetro da tendência política geral da população. "Não são importantes em termos políticos mas são importantes simbolicamente", sublinha Vali Nasr, do Council on Foreign Relations.
Na prática, podem servir como uma antecipação às parlamentares do próximo ano e mesmo às próximas presidenciais. O ciclo de derrotas do campo reformista começou precisamente em 2003, quando os fundamentalistas venceram as municipais e depois escolheram Ahmadinejad, até então desconhecido, para a presidência de Teerão, o que acabou por funcionar como trampolim para a presidência.
"O escrutínio em Teerão é simbólico. A vitória em Teerão é geralmente assimilada a uma vitória no país, mesmo se não é esse o caso", resumiu à AFP o analista conservador Amir Mohebian, director de uma agência de imprensa.
Desiludidos com os reformistas e com o então Presidente Mohammad Khatami, muitos eleitores não foram votar em 2003. Desta vez, os reformistas estão unidos nas listas para os conselhos - em Teerão os conservadores estão divididos, apoiando ou recusando apoiar o actual presidente, Mohammad Baqer Qalibaf, que perdeu para Ahmadinejad nas últimas presidenciais e espera vencer nas próximas.
Sinais de descontentamentoAhmadinejad ganhou em 2005 porque prometeu melhorias sociais e económicas. No mais recente sinal de descontentamento face ao Presidente, estudantes de uma universidade da capital gritaram-lhe "Morte ao Ditador". Sem inquéritos de opinião, restam as notícias no país e estas sugerem que muitos iranianos estão fartos da ausência de soluções para o desemprego e a inflação crescente. Segundo a revista Times, os abusos de direitos humanos ou novas restrições nas televisões por satélite também prejudicam a sua popularidade.
"Se ganham os partidários de Ahmadinejad quererá dizer que o fenómeno social que o levou ao poder ainda está vivo; mas se perdem, significa que os reformistas e os conservadores moderados se reforçaram", explica Amir Mohebian, citado ontem pelo jornal El País. Os reformistas, por seu turno, "perderam as últimas três principais eleições, precisam de uma vitória", disse ao Council on Foreign Relations William Samii, do Center for Naval Analyses.
Sondagens credíveis não há e previsões ninguém arrisca fazer. Ahmadinejad não era sequer considerado para o grupo de candidatos com possibilidades de passar à segunda volta nas eleições de Junho do ano passado.