Antes

A programação do Rivoli é assegurada pela Culturporto, uma associação de produção cultural criada em 1997 entre a Câmara do Porto e o Instituto Politécnico para gerir aquele teatro municipal. Por causa das restrições orçamentais, a produção própria foi decaindo nos últimos anos, o que não impediu que o Rivoli continuasse a destacar-se sobretudo nas áreas do Novo Circo e da Dança Contemporânea. O Festival de Jazz desapareceu, mas continuou a notar-se um esforço de programação temática. Exemplos? O convite a Eduardo Prado Coelho para assegurar a programação em 2002 e a iniciativa Pontapé de Saída, em 2004, a propósito do Europeu de Futebol. Nos anos mais recentes, o Rivoli reforçou a sua componente de "sala de aluguer", com o pequeno auditório a servir essencialmente as companhias de teatro da cidade.

Depois

La Féria promete apostar nas grandes produções para o grande auditório, reservando o pequeno para as acções educativas e produções infanto-juvenis, propondo-se levar à cena obras de leitura obrigatória dos programas oficiais do ensino básico e secundário. Admite ainda estabelecer parcerias com outros produtores, nomeadamente de teatro experimental. Dá preferência a autores portugueses e a produções já testadas e vocacionadas para o grande público.

Comissão propõe que Câmara do Porto entregue Rivoli a Filipe La Féria

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Até à decisão final, a comissão propõe que o funcionamento do Rivoli deverá ser assegurado por uma comissão de instalação Paulo Ricca/Público

Confirmação oficial ainda não há, mas o PÚBLICO sabe que a proposta que a comissão restrita formada para analisar as candidaturas apresentou a Rui Rio - e que terá de passar ainda pelo crivo do executivo camarário, onde a coligação PSD/PP dispõe de maioria absoluta - prevê que o respectivo contrato de gestão vigore a partir de 15 de Março de 2007, sendo válido por quatro anos.

A referida comissão imputa à Bastidores - Produções Artísticas Ld.ª (empresa de La Féria, que partilha a sede com o Teatro Politeama, em Lisboa) uma previsão de custos da ordem dos 5,3 milhões de euros para uma receita de 5,6 milhões no primeiro ano de exercício. Estes números não foram, porém, confirmados pelos responsáveis da empresa. "Não chegámos a apresentar um orçamento", disse ao PÚBLICO Irene Sousa, produtora da Bastidores, garantindo não ter recebido qualquer indicação quanto a uma decisão da autarquia. Porém, este desfecho (que ameaça reacender a contestação dos agentes culturais da cidade à decisão de privatizar o Rivoli, e que teve o seu ponto alto na ocupação daquele teatro, em Outubro) só irá por diante quando e se obtiver luz verde do presidente da câmara, Rui Rio.

De acordo com fontes ligadas ao processo, a idoneidade financeira da proposta do produtor de sucessos de bilheteira como Amália ou Maldita Cocaína terá levantado algumas dúvidas à autarquia, levando-a a apresentar exigências acrescidas. E, em finais de Novembro, instado a demonstrar a sustentabilidade económico-financeira da sua proposta, Filipe La Féria terá dado como garantidos patrocínios de empresas nortenhas capazes de sustentar financeiramente a produção dos espectáculos.

Ao contrário da vontade manifestada por Rui Rio, a eventual opção pela entrega do Rivoli a Filipe La Féria não surge sustentada em nenhum parecer técnico. Por outro lado, a proposta da comissão restrita só foi elaborada depois de falhadas as várias tentativas de fusão de algumas das candidaturas em análise. A comissão formada para avaliar as propostas também chegou a propor a co-gestão e a divisão do ano em temporadas aos responsáveis do Inatel e da Bastidores de La Féria. Ambos terão rejeitado esse modelo.

Refira-se que a proposta do Inatel previa à volta de um milhão de euros de custos no primeiro ano, contra 760 mil euros de receita. Em termos de programação, este instituto público propunha-se fazer a reposição da programação do Teatro da Trindade, em Lisboa, mantendo o acolhimento de eventos que fazem parte do cartaz cultural do Porto, como o "Fantas" e o FITEI, e espectáculos de Novo Circo. Por tratar-se de um instituto público, a própria comissão admite que não seria difícil ao Inatel suportar eventuais défices de exploração. Ainda assim, a opção recaiu sobre La Féria.

Comissão de instalação para liderar extinção da Culturporto

À terceira candidata mais bem posicionada, a Multitemas (as restantes eram a Plateia e a PortoEventos) também foi proposta a fusão com a Bastidores. A resposta foi negativa. "Para fazermos um casamento teríamos que conhecer a proposta do La Féria, que nunca nos foi apresentada, mas sempre mantivemos que a nossa candidatura se dispunha a gerir todo o equipamento cultural, pelo que seria difícil", adiantou António Barroso, da Multitemas.

Até à entrega do teatro àquele produtor, a comissão propõe que o funcionamento do Rivoli deverá ser assegurado por uma comissão de instalação a criar para o efeito e que deverá ser presidida por Santos Carvalho, vice-presidente da Empresa de Águas do Município do Porto, e composta ainda por Margarida Fernandes e Raquel Castello-Branco, actuais vice-presidentes da Culturporto.

Caberá a esta mesma comissão de instalação liderar o processo de liquidação e extinção da Culturporto, cujos 40 funcionários continuam sem saber se integrarão ou não a nova entidade gestora do Rivoli. É que o caderno de encargos da autarquia recomenda que a entidade vencedora deve dar preferência aos trabalhadores daquela associação, mas não faz disso um requisito obrigatório.

O PÚBLICO procurou, sem sucesso, obter um comentário oficial de Álvaro Castello-Branco à proposta da comissão que presidiu.

Universidade do Porto não emitiu parecer técnico

Quando, em Julho passado, o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, anunciou que pretendia privatizar a gestão do Rivoli, o prazo fixado para a adjudicação era Outubro. Porém, na data prevista, a Câmara do Porto justificava o adiamento da decisão com o facto de estar a aguardar um parecer técnico "para melhor consolidar a escolha no que respeita à viabilidade económica das propostas". Ora, a Fundação Gomes Teixeira, da Universidade do Porto, terá recusado emitir qualquer parecer, alegadamente por nenhum dos proponentes apresentar dados suficientemente sólidos para uma apreciação tecnicamente rigorosa. Assim, a análise e o aprofundamento das propostas acabou por ficar entregue a uma comissão restrita, composta pelo vice-presidente da autarquia, Álvaro Castello-Branco, pelo director municipal de Cultura, Raul Matos Fernandes, e por Manuel Teixeira, chefe de gabinete de Rui Rio. Foi esta comissão que concluiu que a melhor proposta para o Rivoli é a apresentada por La Féria.

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