Acusações de Carolina Salgado podem reabrir processos

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O livro de Carolina Salgado levanta novas possibilidades aos investigadores Paulo Pimenta/PÚBLICO

Desde as acusações de pressões nas arbitragens até à alegada intervenção de Pinto da Costa na Comissão Disciplinar da Liga, para evitar a punição de José Mourinho após o suposto rasgar da camisola de um jogador do Sporting, serão analisadas todas as denúncias. E, caso os magistrados concluam que há factos novos em cima da mesa, os processos, já arquivados, serão reabertos.

Mesmo assim, Carolina Salgado terá primeiro de responder por duas situações concretas, ainda por esclarecer. A primeira diz respeito à agressão de Ricardo Bexiga, ex-vereador da Câmara de Gondomar, que a ex-companheira de Pinto da Costa agora revela ter acontecido a mando do presidente dos azuis e brancos (ver texto ao lado).

Outra passagem do livro recheada de pormenores e que também será levada em linha de conta pelos magistrados do Ministério Público tem a ver com a alegada fuga de informação que permitiu a Pinto da Costa ausentar-se do país e evitar a sua detenção.

Mais uma vez, Carolina descreve como foram ambos avisados da diligência das autoridades. Pela sua versão, a iniciativa judicial foi comunicada a Pinto da Costa por Joaquim Pinheiro (irmão de Reinaldo Teles, administrador da SAD do Porto), embora não desvende quem o terá avisado de que a diligência iria ocorrer. As denúncias terminam com a informação de que Pinto da Costa se refugiou no dia anterior a apresentar-se a tribunal na casa de um juiz conselheiro, em Vila Nova de Cerveira.

Carolina conta ainda como todos desafiaram as autoridades. Descreve mesmo as respostas provocatórias dadas aos inspectores da PJ, para depois assegurar que, enquanto as autoridades lhes revistavam a casa, ela e Pinto da Costa recebiam informação precisa sobre tudo o que estava a acontecer no tribunal. António Araújo, entretanto detido e levado ao juiz, estaria a "segurar-se", o que levava Pinto da Costa a manter a confiança de que nada lhe aconteceria.

Ouvida em Outubro pela PJ de Lisboa

Refira-se, ainda, que, no passado mês de Outubro, Carolina Salgado foi ouvida em Lisboa, pela Polícia Judiciária. A ex-companheira de Pinto da Costa terá então revelado algumas das acusações que agora constam do livro, mas de uma forma algo informal, já que a maioria dos processos corre termos no Porto.

Resta saber, no entanto, se Carolina possui informação sobre o alegado esquema de corrupção montado à volta da classificação dos árbitros, também detectado no âmbito do Apito Dourado. Esse, afinal, é um dos pontos inquéritos nascidos do processo principal que ainda não foi arquivado e que corre termos no DIAP de Lisboa.

Permanece também em investigação, mas na Madeira, a alegada pressão feita por António Araújo a Augusto Duarte, para que aquele prejudicasse o Benfica num encontro com o Nacional, num processo que também poderá envolver Pinto da Costa. Mais uma vez, o depoimento de Carolina poderá ser fundamental, já que aquele árbitro é um dos dois que a ex-companheira de Pinto da Costa nomeia como sendo visitas habituais da casa do presidente dos azuis e brancos. Aí, a defesa de António Araújo passava por garantir que nunca havia falado com o árbitro a pedido de Pinto da Costa, situação que poderá ser agora desmentida, dando força à tese defendida pelo Ministério Público.

Também recentemente, Carolina Salgado foi chamada à PJ, no âmbito da investigação sobre os incêndios nos escritórios de Pinto da Costa e de Lourenço Pinto, mas terá rejeitado liminarmente o seu envolvimento. Carolina prefere agora remeter-se ao silêncio, mostrando-se apenas disponível para falar às autoridades caso seja chamada a depor.

Na sequência das acusações agora tornadas públicas, deverá também nascer uma série de processos-crime. São previsíveis acções por difamação por parte dos vários intervenientes citados na autobiografia, desde Pinto da Costa até aos magistrados, advogados ou médicos alvo de acusações.

Refira-se, ainda, que também Pinto Monteiro, procurador-geral da República, será chamado a intervir neste caso e amanhã vai receber Carlos Teixeira, o procurador que esteve encarregado do processo. Pinto Monteiro quer então saber se o magistrado foi perseguido e intimidado e também poderá questioná-lo sobre os motivos que o levaram a não apresentar queixa-crime.

Entretanto, além de Cândida Almeida, responsável pelo Departamento Central de Investigação e de Acção Penal (DCIAP), também Pinto Monteiro anunciou ter encarregado um procurador de ler o livro, para perceber que tipo de acusações estavam em causa. O que deixa no ar a hipótese de todos estes processos poderem vir a ser avocados pelo DCIAP, caso se perceba que extravasam várias comarcas e relatam factos passados em várias cidades.

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