Funeral de Pinochet decorreu em clima de tensão

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A filha de Pinochet lembrou o pai como um "defensor da liberdade" Jorge Saenz/AP

Segundo as agências internacionais, cerca de três mil pessoas, entre familiares, amigos e simpatizantes de Pinochet encheram o pátio da Academia Militar de Santiago para uma missa solene em memória do ditador.

Antes da celebração, presidida pelo capelão das Forças Armadas, o caixão do ditador, coberto com a bandeira chilena, foi levado em ombros por quatro cadetes militares.

As exéquias tiveram honras exclusivamente militares, já que o Governo recusou-se a realizar um funeral de Estado ao antigo Presidente, alegando que Pinochet não respondeu pelos crimes cometidos durante o seu regime (1973-1990). Entre as vítimas da ditadura conta-se o pai da actual Presidente, a socialista Michelle Bachelet, ela própria torturada numa prisão militar.

A medida foi contestada pelos fiéis do antigo regime, que hoje manifestaram o seu desagrado numa sonora e prolongada vaia à ministra da Defesa, Vivianne Blanlot, que representou o Governo nas cerimónias.

A responsável — que não cumprimentou os familiares de Pinochet nem se aproximou do caixão — manteve-se impávida durante todo o funeral, mesmo quando a filha mais nova do antigo ditador chileno, Lúcia, subiu ao palanque para aclamar o pai como "defensor da liberdade" e um neto, cadete na escola militar, teceu louvores ao homem que "derrotou um Governo marxista em plena Guerra Fria".

Na homília, o capelão das Forças Armadas afirmou, perante os aplausos dos assistentes, que o antigo chefe militar "decidiu intervir numa das horas mais críticas do país", enquanto o general Oscar Izurieta, comandante do Exército, declarou que "é preciso deixar a história fazer um exame objectivo e justo" do regime de Pinochet.

No final da missa, o caixão de Pinochet foi transportado para o interior da academia debaixo de um coro de vozes que aclamavam o nome do antigo ditador. O corpo de Pinochet será transportado de helicóptero para a cidade de Concon, cem quilómetros a oeste de Santiago, onde será cremado. A família já anunciou que pretende depositar as cinzas numa propriedade junto ao Pacífico.

As cerimónias fúnebres foram transmitidas em directo pelas três televisões nacionais, intervaladas por reportagens na manifestação que juntou milhares de opositores ao regime, concentrados junto ao Palácio Presidencial de La Moneda, na baixa da cidade, para homenagear o antigo Presidente Salvador Allende, assassinado durante o golpe militar que levou Pinochet ao poder. Segundo a polícia, a concentração reuniu cerca de dois mil manifestantes e chegou ao final sem quaisquer incidentes.

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