Antigo ditador da Etiópia condenado por genocídio

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O processo envolvia 72 arguidos, mas apenas foram apenas 45 os que se sentaram no banco dos réus Les Neuhaus/AP

O antigo ditador etíope Mengistu Haile Mariam foi hoje condenado por genocídio e dezenas de outros crimes cometidos pelo sangrento regime que governou o país durante 17 anos (1974-1991).

Mengistu, actualmente exilado no Zimbabwe, foi julgado à revelia num processo que se arrastou por doze anos, mas que representa um dos raros casos em que um antigo dirigente africano é julgado por um tribunal do seu próprio país.

O antigo ditador arrisca-se agora a ser condenado à pena capital, mas o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, já anunciou que não irá extraditá-lo se ele se mantiver afastado da política activa.

Mengistu – que chegou ao poder através do sangrento golpe de Estado que derrubou o imperador Haile Selassie – mantém uma vida de luxo mas afastada dos holofotes públicos desde que foi obrigado a abandonar o país, após a vitória da guerrilha liderada pelo actual primeiro-ministro, Meles Zenawi.

O julgamento que hoje chegou ao fim centrou-se na campanha do "terror vermelho", a mais infame das purgas levadas a cabo pelo regime de Mengistu. Durante os anos de 1977 e 1978, milhares de pessoas suspeitas de se oporem ao regime foram executadas e os seus corpos abandonados nas ruas.

Processo começou em 1994

Durante a ditadura militar foram cometidas várias atrocidades: da fome a que foi votada boa parte da população, às purgas, prisões ilegais, abuso de poder e execuções em massa. Ficaram célebres os relatos dos familiares de vítimas do regime a quem era cobrado o preço da bala usada para executar os seus entes queridos.

Em 2000, Gizaw Tefera contou em tribunal como soldados leais a Mengistu cortaram a cabeça do seu pai, leiloando-a num mercado de Addis-Abeba. "Ninguém quis comprá-la", recordou a testemunha.

Os opositores acusam também a junta militar de ter assassinado o Imperador Selassie, que morreu em circunstâncias pouco claras, um ano após o golpe militar, quando se encontrava detido nos calabouços do seu antigo palácio presidencial.

"Os membros da Derg [a junta liderada por Mengistu] presentes hoje aqui em tribunal e aqueles que foram julgados à revelia conspiraram para destruir um grupo político e matar pessoas com total impunidade", anunciou o juiz-presidente, Medhen Kiros.

Além de Mengistu o processo envolvida outros 72 arguidos, dos quais 27 foram julgados à revelia. Dos 45 antigos dirigentes e líderes militares que se sentaram no banco dos réus, 14 morreram durante os longos anos que durou o processo, formalmente iniciado em 1994.

Os rebeldes que derrubaram Mengistu mostraram-se determinados a julgar os responsáveis do antigo regime, criando tribunais especiais para os abusos de poder, mas a complexidade dos processos, a ausência de testemunhas e arguidos e os sucessivos pedidos de adiamento arrastaram o caso por 12 anos, desacreditando o processo perante a opinião pública.

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