Kovtun é um dos suspeitos na morte de Litvinenko

Sinais de polónio 210 surgiram na Alemanha em quatro pessoas muito próximas do empresário que esteve com o ex-expião russo

O aparecimento de vestígios de material radioactivo em quatro pessoas do círculo de relações do empresário russo Dmitri Kovtun colocaram-no ontem na lista dos principais suspeitos de envolvimento na morte do seu compatriota Alexandre Litvinenko, ocorrida o mês passado em Londres."Existe a suspeita de que polónio 210 penetrou no organismo" da ex-mulher (alemã) e de outras pessoas contactadas por Kovtun, que no dia 28 de Outubro chegou à cidade alemã de Hamburgo, antes de ter ido a Londres encontrar-se com Litvinenko, numa reunião a que assistiu outro empresário da mesma nacionalidade, Andrei Lugovoi.
Investigadores alemães confirmaram ontem ter encontrado vestígios de polónio 210 na viatura BMW utilizada por Kovtun do aeroporto de Hamburgo para a casa da ex-mulher, bem como num documento que apresentou às autoridades de imigração e na residência da antiga sogra, em Haselau, perto daquela cidade.
Tudo parecia ontem apontar para que o empresário tivesse trazido o polónio de Moscovo, na perspectiva do encontro que iria ter no bar do Hotel Millenium, da capital britânica, com Alexander Litvinenko, num caso que abalou a opinião pública em toda a Europa. Formalmente, trabalhava como um consultor de negócios e fazia trabalhos de assessoria para empresas ocidentais que pretendessem alargar as suas operações à Rússia.

Um perfeito álibi?Apesar de tudo, a polícia da cidade-estado de Hamburgo ainda lhe procurou dar o benefício da dúvida, dizendo não ser ainda claro se realmente se trata de um suspeito ou apenas de mais uma vítima de gigantesca máquina assassina.
Como álibi, este antigo guarda-costas do KGB reciclado em homem de negócios apresenta o facto de oficialmente estar actualmente a ser tratado num hospital de Moscovo por envenenamento com material radioactivo.
O seu colega de deambulações em Londres, Andrei Lugovoi, esteve ontem a ser interrogado durante mais de três horas, como testemunha, por funcionários da Procuradoria-Geral de República Russa e investigadores da Scotland Yard que se deslocaram a Moscovo.
Tudo isto se está a tornar tão confuso que alguns escritores de policiais e romances de espionagem afirmam tratar-se de um caso clássico em que a realidade vai muito além da ficção. Frederick Forsyth, o britânico de 68 anos que escreveu O Dia do Chacal, sobre uma conspiração para assassinar o Presidente francês Charles de Gaulle, declarou ontem à Reuters: "Penso que se apresentasse um enredo destes o meu editor me aconselharia a largá-lo e a pegar em algo mais realista. Até me poderia dizer que era altura de ir de férias." Fascinado pela situação a que se tem assistido nestas últimas semanas, admitiu que "as coisas venham a ficar cada vez mais feitas, em primeiro lugar na Rússia, mas também muito para além das suas fronteiras".
Quanto a John Le Carré, pseudónimo do compatriota David John Moore Cornwell, e autor de O Espião Que Veio do Frio, de 1963, preferiu não se pronunciar, quando igualmente foi abordado pela Reuters: "Não considero as minhas conjecturas mais credíveis do que as de qualquer outra pessoa."

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