Brasil: Tribunal de Contas aponta má gestão como causa da crise do sector aéreo
"A crise, que está a ser chamada de 'apagão aéreo', não foi obra do acaso mas de uma sucessão de erros e dificuldades de gestão", afirma o autor do relatório, Augusto Nardes, acrescentando que a Casa Civil da Presidência e o Ministério do Planeamento tinham conhecimento da precariedade da aviação brasileira.
No documento, Nardes faz uma série de recomendações ao Governo para evitar uma nova crise no sector, como a criação de uma carreira exclusiva de controlador de voo, melhor aproveitamento das "aerovias" e elaboração de uma política de expansão do quadro da Aeronáutica.
Ministro recusa ligar crise a restrições de orçamentoO ministro da Defesa, Waldir Pires, negou, entretanto, que a actual crise na aviação brasileira tenha qualquer ligação com alegadas restrições no orçamento para o sector.
"Em 2005, não fizemos contingenciamentos (cortes de recursos). Em 2004, o contingenciamento foi de quase nada. Em 2006, foi zero. Não há problemas neste sentido. Temos recursos e estamos a adoptar todas as medidas necessárias", afirmou Pires, hoje, aos jornalistas, após o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Instado sobre uma alegada declaração sua a Augusto Nardes, de que só orações resolveriam o problema da aviação brasileira, Waldir Pires afirmou: "Eu disse apenas acreditar que tudo vai ocorrer bem no final de ano, se Deus quiser. Isso quer dizer que estamos a fazer a nossa parte mas que também pedimos a Deus que nos ajude".
Cancelamentos e atrasos nos voos desde OutubroA crise no sistema aéreo brasileiro evidenciou-se após o acidente, a 29 de Setembro, entre um Boeing da companhia aérea GOL e um jacto particular, que causou a morte de 154 pessoas, entre as quais o empresário português António Armindo, que estava a trabalhar no Brasil.
Desde o final de Outubro, os passageiros têm enfrentado cancelamentos de voos e constantes atrasos nos principais aeroportos brasileiros.
Inicialmente, os problemas foram causados por uma greve de zelo dos controladores aéreos, que resolveram seguir à risca as normas internacionais com o objectivo de garantir a segurança dos voos e atrasaram, assim, a chegada e a saída de aviões.
A chamada "operação padrão" gerou o caos nos aeroportos do país, com voos cancelados e atrasos até 20 horas no feriado brasileiro de 2 de Novembro.
Em Novembro houve outros transtornos atribuídos a problemas causados pelas chuvas no Centro Integrado de Defesa Aérea e Controlo do Tráfego Aéreo (Cindacta 2) de Curitiba, que coordena o tráfego aéreo na região Sul.
Na última semana, uma avaria nos equipamentos de comunicação entre aviões e controladores de voo da torre de Brasília, responsável pelo tráfego na região Centro-Oeste do Brasil, trouxe novamente o caos aos aeroportos brasileiros.
Na última segunda-feira, o Cindacta 2 sofreu uma quebra de energia eléctrica.
O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse hoje que a situação do tráfego aéreo brasileiro só deverá voltar ao normal em Fevereiro.