Voos da CIA: eurodeputados dizem que Governo português "marcou a diferença"
"Agradeci ao ministro dos Negócios Estrangeiros ter reunido connosco, porque marcou a diferença em relação a outros países europeus, cujos ministros dos Negócios Estrangeiros recusaram o nosso convite", afirmou o eurodeputado português, que preside à comissão.
Sobre a reunião em si, Carlos Coelho revelou que Luís Amado "reiterou o que já tinha dito perante a Assembleia da República", ou seja, que "todos os indícios que recolheu apontam para a inexistência em Portugal, ou pelo menos o desconhecimento das autoridades portuguesas, de qualquer acto ligado ao transporte ilegal de suspeitos de terrorismo".
Por outro lado, "o ministro recordou que até o Governo é obrigado a respeitar a lei nos processos de investigação", uma afirmação que o eurodeputado interpretou como uma forma de dizer que "não está em condições de fornecer elementos complementares, como as famosas listas de passageiros".
Em causa estão as listas de passageiros dos voos considerados suspeitos, que foram deduzidas através da investigação por não existirem registos, mas cuja divulgação pode pôr em causa direitos das pessoas envolvidas.
"Não tenho novidades objectivas, excepto a opinião do Governo português sobre os factos", disse o presidente da comissão do Parlamento Europeu, reiterando, por outro lado, que "o facto de o ministro se ter encontrado com a delegação marca uma alteração na relação do Governo português com esta comissão".
Investigações ainda em cursoSegundo Carlos Coelho, Luís Amado explicou aos eurodeputados que o Governo tem ainda "um conjunto de investigações em curso", sem dar contudo garantias de que o resultado dessas investigações seja apurado "em tempo útil para a comissão", que "tem um calendário a respeitar".
"O ministro tornou claro que o ónus da prova é nosso. A nossa preocupação tem a ver com fortes indícios de que esses voos podem ter sido utilizados para transportes ilegais mas, como eu disse desde a primeira hora, a nossa comissão não tem provas evidentes de que tenha havido quaisquer actos criminosos", declarou.
Assessores fora do encontroPouco depois do início da reunião, os quatro assessores políticos dos eurodeputados saíram do Palácio das Necessidades, após terem sido impedidos de participar no encontro por imposição do gabinete do ministro.
Questionado sobre este facto, depois de ontem Luís Amado ter acusado a comissão de ignorar as explicações do governo português, Carlos Coelho explicou que "havia limitações na sala" e acrescentou que, não sendo "o dono da casa", tem de "acatar as regras".
Sobre as críticas de Luís Amado à comissão, Carlos Coelho disse ter "explicado ao ministro que se trata de um equívoco", uma vez que as conclusões apresentadas no projecto de relatório apresentado na semana passada "é um primeiro esboço e não o relatório final" e que, "de qualquer maneira, os dois parágrafos relativos a Portugal tratam de meras questões de facto, não contendo nenhuma avaliação política".
Sobre se, apesar da falta de novidades, o encontro de hoje com o ministro português vai ter reflexos no texto do relatório final, Carlos Coelho assegurou que sim.
"Com certeza, porque vamos fazer a avaliação daquilo que aconteceu e, portanto, na parte de Portugal como de outros países, vamos juntar mais dados: a nossa avaliação de como a missão decorreu", disse.