Tomma Abts, de 38 anos, foi anunciada anteontem à noite vencedora do prémio Turner. É a primeira mulher a receber o mais prestigiado prémio de artes plásticas da Europa em nove anos. É também a primeira vez que este é entregue a uma obra de pintura desde o escândalo das virgens negras de Chris Offili em 1998.
Mas há nas palavras de Searl mais do que surpresa perante o regresso da pintura ao centro das atenções - tendência internacional, no arrefecimento da euforia à volta dos "novos" suportes (no ano passado, em Portugal, Bruno Pacheco, por exemplo, foi o primeiro artista em dez anos a vencer o Prémio União Latina, também com pintura). É que há também mais de oito anos de distância entre a pintura de Offili e a pintura de Tomma Abts.
Realizadas em telas de grandes formatos e adornadas com bosta de elefante, as virgens de Offili - há uma na Colecção Berardo, base do futuro Museu de Arte Moderna e Contemporânea Colecção Berardo - inscreviam-se no registo esfuziante de extroversão e polémica que marcou grande parte da década de 1990 na arte britânica. Já a abstracção discreta de Abts, realizada em telas de pequenos formatos, fica longe do que tem sido a marca do Turner.
O processo é sistematicamente o mesmo. A trabalhar desde 1998 exclusivamente sobre telas de 48 centímetros por 38, Abts não cria um desenho prévio nem tem uma ideia pré-concebida sobre o resultado final dos seus trabalhos - pinta, em grande medida, como o faziam os pintores "tradicionais": vai acrescentando camadas de tinta umas sobre as outras e permite que a lógica interna e a resolução última de cada trabalho nasça do seu fazer progressivo.
"As suas pinturas são bastante diferentes das de qualquer outro artista neste momento", diz Adrian Searl. "Mais do que novidades, [os seus trabalhos] são o produto silencioso e aparentemente modesto de uma espécie de introspecção, distanciamento e fixação raramente vistos em exposições do Turner", escrevia o crítico na edição de ontem do Guardian.
Mas Searl vai mais longe, ao ponto de dizer que as pinturas "hipnóticas" da artista - "um híbrido entre verdadeiro relevo e sombras pintadas, entre superfície real e espaços mentais impossíveis" - poderão vir a criar escola. Tomma Abts, diz Searl, "identificou um espaço inquietante, atmosférico e fugidio a que poderemos um dia acabar por chamar "abtsiano"".
Prémio entregue por Yoko OnoNascida em Kiel, na Alemanha, em 1967, Abts vive e trabalha em Londres há 12 anos - o Turner (37 mil euros para o vencedor e 6 mil euros para os restantes três finalistas) restringe-se a artistas com menos de 50 anos radicados no Reino Unido. No grupo de finalistas em que se incluía estavam ainda Mark Titchner, Phil Collins e Rebecca Warren. Mark Titchner, de 33 anos, trabalha normalmente em instalação, com montagens de textos, pinturas, vídeos e máquinas. Phill Collins, de 36 anos, tem realizado filmes - nomeadamente em zonas de guerra - em que mistura reportagem e ficção. Rebecca Warren, de 41 anos, apresentou um conjunto de nus feitos em barro cru, formas meio desfeitas em que a voluptuosidade se aproxima do grotesco.
Tomma Abts foi anunciada vencedora durante a habitual cerimónia transmitida em directo pelo Channel 4 - este ano coube a Yoko Ono entregar o prémio decidido por um júri de que fizeram parte Lynn Barber, crítica de arte do Observer, Margot Heller, directora da South London Gallery, Matthew Higgs, da norte-americana White Columns, Andrew Renton, do Goldsmiths College, e Nicholas Serota, director da Tate.
A exposição do Turner fica na Tate Modern, em Londres, até 14 de Janeiro.