Dois em cada três portugueses não se interessam por ciência
Durante o Fórum de Pesquisas CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) 2006, este ano dedicado às temáticas da Sociedade do Conhecimento, Jovens e Educação, que decorre hoje, os investigadores vão apresentar os resultados mais relevantes da investigação feita neste âmbito nos últimos anos. Ciência e Sociedade é o tema deste painel, durante o qual os investigadores, baseados em estudos realizados no CIES, vão debruçar-se sobretudo nos Públicos da Ciência.
No primeiro caso, o que se procurou fazer foi "caracterizar a população portuguesa face à ciência", tentando perceber se "têm práticas de contacto na profissão, no dia-a-dia e se lêem revistas científicas", explicou Cristina Palma Conceição, uma das investigadoras.
As conclusões revelam que 63 por cento da população portuguesa entre os 15 e os 74 anos não manifesta interesse pela ciência, enquanto 37 por cento se sente próximá dos assuntos científicos.
Dados do estudoOs investigadores identificaram sete modos típicos de relação com a ciência: "envolvidos", "consolidados", "iniciados", "autodidactas", "indiferentes", "benevolentes" e "retraídos".
Os "indiferentes" (quase 23 por cento), os "benevolentes" (28 por cento ) e os "retraídos" (12 por cento), embora em níveis diferentes, apenas desenvolvem de forma muito residual ou nula práticas de aquisição de informação científica, avaliam os seus conhecimentos científicos como fracos, não mostram interesse em melhorá-los e fazem julgamentos pessimistas das consequências dos desenvolvimentos da ciência.
Já os "envolvidos" (dois por cento), os "consolidados" (nove por cento) , os "iniciados" (oito por cento) e os "autodidactas" (18 por cento) têm práticas intensivas de aquisição de informação, utilizam a ciência nos vários contextos de existência social e avaliam os seus conhecimentos científicos como bons, manifestando vontade de melhorá-los, sendo a única diferença entre eles os níveis de intensidade ou frequência com que praticam.
Os investigadores concluíram ainda que os "envolvidos" são jovens, muitos deles em níveis de ensino avançado, e os "consolidados" estão na meia idade e desenvolvem actividades profissionais de dirigentes, de quadros técnicos de nível superior ou intermédio.
Os "iniciados" são os mais jovens, quase todos com menos de 25 anos, e na maioria estudantes, ao passo que os "autodidactas" estão distribuídos por toda a faixa etária considerada no estudo e por toda a escolaridade, sendo na sua maior parte assalariados de base dos serviços ou da indústria.
Por sua vez, os "indiferentes" e os "benevolentes" têm escolaridades baixas, são quase todos operários ou empregados executantes dos serviços, e distribuem-se pelos diversos escalões etários.
Os "retraídos" são os mais velhos, os menos escolarizados e, com maior peso, operários e domésticas.
Numa análise de conjunto, a proximidade à ciência revela-se fortemente relacionada quer com a proximidade ao sistema de ensino, em particular com os graus mais elevados, quer com a proximidade à cultura erudita e às novas tecnologias.
A proximidade à ciência mostra-se igualmente muito relacionada com as oportunidades de contacto directo com a investigação científica ao longo dos trajectos de vida e com a utilização da ciência nos contextos sociais de trabalho, estudo, acção cívica, lazer e sociabilidade.