Forças Armadas: novo chefe do Estado-maior lembra "tratamento específico" da condição militar

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Valença Pinto assume o cargo numa altura de contestação no seio das Forças Armadas Manuel de Almeida/Lusa (arquivo)

"É um valor [a condição militar] que não implica necessariamente uma fileira de privilégio, mas é um valor que determina um tratamento específico", disse hoje o general, na cerimónia de tomada de posse.

Para o sucessor de Mendes Cabeçadas, a condição militar "é um valor que pertence ao Estado, por ser garante de uma acrescida liberdade e independência da sociedade nacional", que impõe "a servidão constante" e que "define para os militares um estatuto próprio e singular".

Este é ainda um valor que "impõe a todos os militares, em todas as situações, uma exigência estrita no plano da ética, das atitudes e dos comportam entos".

Ainda enquanto chefe do Estado-maior do Exército, Valença Pinto foi um dos subscritores de um memorando enviado ao ministro da Defesa, na qual os chefes militares questionam algumas medidas restritivas preconizadas para o sector.

Valença Pinto assume o cargo numa altura de contestação no seio das Forças Armadas, expressa recentemente num "passeio de descontentamento" que percorreu o centro de Lisboa, organizado por militares na reserva e na reforma.

Novo CEMGFA desvaloriza acções de protesto

Ainda assim, já à saída da cerimónia, o novo CEMGFA desvalorizou as acções de protesto que têm sido promovidas pelas associações, que falam de um descontentamento generalizado nas Forças Armadas.

"Nem tudo corre bem, como é evidente, mas daí até se generalizar uma ideia de descontentamento e de insatisfação vai uma enorme margem. Recordo que as Forças Armadas têm, incluindo os militares na reserva e na reforma, qualquer coisa como 70 mil militares e passearam no fim de tarde 0,45 por cento desse efectivo e quase todos na reserva e na reforma", frisou.

"Se chama a isso uma expressão fisicamente manifesta de grande descontentamento, eu não chamo", acrescentou. Para Valença Pinto, os membros das associações de militares que têm promovido as acções de protesto "representam-se a eles e não às Forças Armadas".

"É inequívoco que quem representa as Forças Armadas são as chefias militares", enfatizou.

Na sua primeira intervenção como chefe máximo da hierarquia militar, Valença Pinto assegurou que as Forças Armadas "conhecem e compreendem a complexidade da conjuntura que Portugal atravessa" e querem "ser parte dos esforços tendentes à ultrapassagem das actuais dificuldades".

Prometeu, por isso, "uma acrescida racionalização e melhor integração", num contexto de "requisitos mais exigentes e solicitações mais intensas" que exige do Estado "a necessidade de dedicar às Forças Armadas uma atenção permanente e uma intervenção qualificada" que resulte de "uma convergência activa de políticas, de prioridades e de atitudes" e que associe "os órgãos de soberania", as " principais forças políticas" e "os mais altos responsáveis militares".

No final, Valença Pinto considerou que "os governos sucessivamente" têm atendido às preocupações dos militares e falou da possibilidade de os poderes do CEMGFA virem a ser reforçados. "Do meu ponto de vista faz sentido (...), para facilitar a relação do governo com as FA e as relações de trabalho no seio das Forças Armadas", disse.