As suspeitas sobre a origem do polónio concentram-se na Rússia

Quem usou polónio 210 para envenenar Alexander Litvinenko correu também riscos, pois uma partícula mais diminuta que um grão de poeira pode ser 250 milhões de vezes mais tóxica do que cianeto. Mas é um material tão raro e rodeado de tantas medidas de segurança que, para alguém o obter, tem de ter um alto nível de acesso: pessoas meramente bem relacionadas não o conseguiriam. Possivelmente, só pessoas com responsabilidades na hierarquia de um Estado poderiam ter acesso a polónio, diz a Agência Internacional de Energia Atómica. Face a este cenário, diz o semanário britânico The Observer, as suspeitas estão a recair sobre possíveis desvios de material radioactivo de instalações científicas na Rússia. Para produzir polónio é necessário bombardear o metal bismuto com neutrões, num reactor nuclear. Além disso, a dose não era assim tão pequena, porque quem quer que tenha envenenado Litvinenko assegurou-se de que seria o suficiente para que os médicos conseguissem ainda descobrir vestígios no seu corpo.
As Nações Unidas vão investigar de que instalações de processamento de material radioactivo poderia ter vindo o polónio. Uma das possibilidades é Krasnoiarsk, a 600 quilómetros para leste de Tomsk, de onde desapareceram dez quilos de polónio em 1993, de acordo com a revista Bullletin of Atomic Scientists. E o Irão tem feito experiências com polónio, possivelmente de origem russa.
Para ser fatal, o polónio tem de ser ingerido, inalado ou injectado. A radiação que produz não penetra na pele. Não há antídoto. "Tanto quanto sei, nunca antes foi usado como veneno. É um material obscuro e difícil de obter. É o tipo de coisa que só se encontraria num laboratório secreto do KGB, ou assim", disse ao jornal The New York Times Lee Cantrell, director da divisão de San Diego do Sistema de Controlo de Venenos da Califórnia. Cantrell fez uma busca na literatura científica e encontrou apenas uma referência ao uso de polónio para matar: era de 1994, e publicada numa revista russa. C.B.

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