Investigadores debatem legado celta na Península Ibérica

Congresso transfronteiriço em Ponte da Barca discute linguagem, cultura e herança dos celtas

Já fomos celtiberos, e em crianças ainda nos contam histórias de fadas. É verdade que o Sol e a Lua, os rios e as florestas perderam para nós quase todo o seu significado religioso, mas a cultura celta, ou uma memória dela, perdurou ao longo dos séculos, apesar de todas as influências posteriores, nem que seja na música tradicional que, principalmente no Norte de Portugal, partilha influências desses tempos proto-históricos com a Galiza, com a Bretanha ou com a Irlanda, lugares míticos de implantação desses povos indo-europeus. Um legado cultural que está hoje em destaque no primeiro Congresso Transfronteiriço de Cultura Celta, em Ponte da Barca.Durante todo o dia, no auditório da Escola Profissional do Vale do Lima, vários especialistas portugueses e espanhóis vão desvendar um pouco mais desta herança que, estando em franca recuperação na Galiza, em Portugal não tem, de facto, a mesma carga identitária.
Mas há marcas desse passado um pouco por toda a região, notou Fátima Lobo, do Pólo de Braga da Universidade Católica, instituição que organiza este evento em parceria com o município de Ponte da Barca. Exemplo disso é o estudo de Andreia Martins sobre a iconografia, símbolos e mitos na estação de arte rupestre da Chã da Rapada, naquele concelho do Alto Minho, que será apresentado depois da sessão de abertura, marcada para as 10h00, num painel que se completa com uma comunicação sobre os documentos que suportam a teoria sobre as origens da cultura celta da Península Ibérica, por Ramón Sainero, autor de uma extensa bibliografia sobre o tema e director do Instituto de Estudos Celtas de Espanha.
A partir das 14h30, António Pineiro Feijóo, responsável pela cultura no concelho galego de Celanova, explica a importância dos produtos turísticos associados ao mundo castrejo na província de Ourense, enquanto Martín Almagro-Gorbea, da Universidade Complutense de Madrid, desfiará impressões sobre o passado e as vivências actuais com marcas celtas na península.
Na última mesa do congresso, Fernando Alonso Romero, da Universidade de Santiago de Compostela, mostrará as relações entre o cristão Dia de Todos os Santos e as crenças e tradições relacionadas com a morte e a fertilidade na festa celta de Samain, celebrada nesta altura do ano. Maia Marques, da Universidade do Porto, abordará a morte e ritual entre os celtas e Leonor Vaz de Carvalho, da Universidade Lusíada, abordará o legado mítico celta. Abel Coentrão

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