Torne-se perito

Uma GUERREIRA POLÍTICA que não tem medo e uma FEMINISTA sEm VERGONHA DE SER MULHER

Ségolène Royal não respeita as regras tradicionais do jogo político. A candidata do Partido Socialista Francês (PSF) às presidenciais francesas de 2007 nunca lança ataques directos contra os seus concorrentes, evita os duelos oratórios e não procurou, em momento algum, fazer alianças com os "elefantes" socialistas (a alcunha dos barões do PSF). Mas Ségolène Royal impõe as suas próprias regras do jogo. Esta mulher, tão austera no seu relacionamento com os outros como sorridente em campanha, coloca-se sempre no eixo das expectativas dos franceses - e sobretudo dos franceses de esquerda. Não faz grandes proclamações de intenções, mas mostra estar disponível para o que o país exigir dela. Não tenta falar de igual para igual com os líderes do partido, mas cria as suas redes, que lhe são dedicadas de corpo e alma.
No PSF, Ségolène contornou o partido para acabar por lhe impor o seu programa e os seus colaboradores - e isto apesar de o seu companheiro, François Hollande, ser o primeiro-secretário do movimento socialista. E nas primárias, obrigou permanentemente os seus adversários a reagirem às suas propostas, provocatórias por vezes, mas que ficaram na memória dos franceses, enquanto ninguém se lembra de uma única sugestão dos seus rivais, Dominique Strauss-Kahn e Laurent Fabius.
"As gazelas correm mais depressa do que os elefantes", ironizava Ségolène Royal em Maio, quando a sua candidatura à candidatura socialista era descartada pelos "elefantes" como sendo demasiado ligeira. Esta metáfora veio naturalmente à mente de Marie-Ségolène Royal, filha de um oficial do exército francês, Jacques Royal, e nascida há 53 anos no Senegal, onde o pai estava então destacado em serviço.
Uma infância triste e severa, restringida às proibições que o pai impunha aos oito filhos e filhas, e que ela aprendeu a contestar, forjou-lhe o carácter e deu-lhe aquele tom duro e desagradável que os seus mais próximos colaboradores conhecem bem.
Quando os pais se divorciaram, os filhos, e sobretudo Ségolène, tomaram partido pela mãe. Jacques Royal deixou de sustentar a família, e a futura candidata ao Eliseu teve de trabalhar para pagar os estudos brilhantes de Economia, depois de Ciência Política e, por fim, na prestigiada Escola Nacional de Administração.
É neste percurso familiar que enraíza o feminismo de Ségolène Royal, por oposição a um pai próximo da extrema-direita e em contraste com uma mãe muito apagada. E é numa verdadeira sede de justiça pessoal que se moldam rapidamente as suas convicções socialistas.
Ségo, como lhe chamam hoje os franceses, entrou na política logo no primeiro círculo do poder, no Eliseu como conselheira do defunto Presidente François Mitterrand. Mas quando desceu à verdadeira arena política, a das eleições, em 1998, ganhou inesperadamente a batalha, sendo eleita deputada. Desde então, implantou o seu feudo político na região de Poitou-Charentes, até conquistar a presidência do conselho regional, em 2004.
Ministra quatro vezes, com pastas subalternas - Saúde, Ambiente, Educação, Família -, forjou de cada vez uma imagem claramente à direita do PSF, em luta contra a pornografia, a autoridade parental ou a favor das tradições regionais. Nestas primárias socialistas, utilizou como um trunfo o facto de ser mulher, e serviu-se da sua beleza contra o machismo paternalista dos seus rivais.
Ségolène Royal é uma feminista que não tem vergonha de ser mulher. Mas, na batalha para a investidura socialista, não foi em nada o "sexo fraco", mas antes uma guerreira, que não teve medo, e que nunca baixou os olhos. Maquilhados ou não.
Ana Navarro Pedro, Paris

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