Mais de metade dos utentes dos centros saúde têm tensão e colesterol altos

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A tensão e o colesterol são problemas também dos pacientes diabéticos João Relvas (arquivo)

O médico de saúde pública comentou assim o projecto Coração Seguro, que está a percorrer os centros de saúde portugueses para avaliar os factores de risco associados às doenças cardiovasculares, cujos resultados serão apresentados amanhã no VIII Simpósio da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

Em 156 centros de saúde do país foram instalados gabinetes para avaliar os factores de risco de 4600 pessoas, através da medição da tensão arterial, do peso, da altura e do perímetro da cintura.

De acordo com Luís Negrão, 57 por cento dos utentes tinham a tensão arterial superior aos 14/9 recomendados.

Um terço destes desconhecia que tinha valores elevados, mas os restantes sabiam, afirmou, acrescentando que os resultados verificados "deixam os clínicos preocupados".

"As pessoas sabem que têm tensão alta, andam medicadas e mesmo assim continuam com os valores acima dos recomendados, o que é muito grave", considerou.

Entre os diabéticos a situação também "é preocupante", segundo o médico, que afirma terem sido detectados 85 por cento de pessoas com tensão alta, três quartos dos quais com conhecimento do problema e a maioria (98 por cento) medicada.

Na opinião de Luís Negrão, "o que falta é a co-responsabilização do doente relativamente ao tratamento e à vigilância", o que se deve em grande parte ao tipo de doente dos centros de saúde.

A média de idade dos inscritos era de 60 anos nas mulheres e 61 nos homens, sendo que 50 por cento das pessoas tinham entre 52 e 70 anos.

"Isto revela uma população bastante envelhecida e embora os utentes não tenham sido inquiridos quanto à escolaridade, trabalhos semelhantes realizados pela FPC revelaram um nível de escolaridade muito baixo, o que poderá em grande parte explicar a falha de comunicação entre o médico de família e o doente", argumentou.

Para este responsável, falta algum conhecimento e noções ao doente para perceber que tem uma doença crónica e que tem que fazer algo para manter a tensão dentro dos valores normais. "Isto torna-se mais complicado na medida em que a tensão não dói, porque se doesse certamente andaria mais controlada", ironizou o médico.

Doentes são cada vez mais responsáveis pelo seu tratamento

Luís Negrão adiantou que a situação é idêntica no que respeita ao colesterol, já que 56 por cento das pessoas sabiam que tinham os valores elevados. Mais de metade destes estavam medicados, mas a maioria continuava com o colesterol acima das recomendações.

"Esta situação é grave para o doente pelo risco que corre de doença cardíaca a curto prazo, e é grave do ponto de vista do Serviço Nacional de Saúde, porque comparticipamos o tratamento de doenças, cujos resultados ficam aquém do que deveriam estar", afirmou.

Para Luís Negrão, as pessoas ainda estão pouco instruídas sobre os problemas da sua saúde e a responsabilidade do seu tratamento não é apenas do médico, é "cada vez mais do doente".

As recomendações que a fundação deixa são simples: "Fazer o que o médico manda, constatar se está a surtir efeito e, se estiver, manter. Se não estiver, tentar perceber o que está a correr mal no tratamento e corrigir".

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