Depressão imóvel e mar quente foram causas das chuvas

Primeira semana de Novembro repete índices elevados de precipitação de Outubro. Em alguns pontos, já choveu mais do que a média do mês todo

Quem quiser encontrar um responsável para as chuvas fortes que há uma semana castigam o país, aqui vai uma dica: a culpa é da depressão. Não é nada do foro psiquiátrico, mas pura meteorologia. Foi um persistente centro de baixas pressões, instalado no mar a oeste de Portugal, que causou todos os estragos.O que houve de diferente, neste caso, foi o facto de a depressão ter-se movido pouco durante uma semana. Fincou pé ao largo da costa portuguesa, deixando o país sob a influência da sua massa de ar quente e húmida. "Não é muito frequente ficar estacionária", afirma o meteorologista Pedro Reis Vieira, do Instituto de Meteorologia.
Têm sido quase chuvas tropicais - quentes, densas e trovejantes. E vêm acompanhadas de ventos de sul, e não da nortada que com mais frequência traz a precipitação no Inverno.
Mais uma vez, a explicação está na depressão estacionária. Ao redor de um centro de baixa pressão, o ar circula na direcção contrária aos ponteiros do relógio. "Daí a explicação do vento ser de quadrante sul", diz Pedro Vieira. O resultado foi um princípio de Novembro com água em abundância. Segundo um comunicado do Instituto de Meteorologia, "em alguns locais das regiões Centro e Sul as quantidade de precipitação registadas até dia 6 de Novembro ultrapassaram já o valor médio do mês".
A chuva, segunda-feira, chegou a 87 milímetros em Castro Verde, 71 milímetros em Castelo Branco, 51 milímetros em Portimão e 45 milímetros em Faro. No dia anterior, em Castelo Branco já tinha chovido 69 milímetros. Entre quinta e sexta-feira passadas, várias estações do Alentejo e do Algarve registaram grandes cargas de água. O nível da água na albufeira de Alqueva subiu três metros, atingindo o volume de água armazenado os 71 por cento da capacidade total.
Há locais onde choveu mais num dia do que num mês normal de Novembro. Em Beja, por exemplo, a precipitação chegou a 87 milímetros entre o meio-dia de quinta-feira e o meio-dia de sexta. A média de Novembro pouco ultrapassa dos 75 milímetros.

Mar mais quenteA temperatura do mar também está a dar uma ajuda. "Está anormalmente quente", diz o meteorologista Pedro Vieira. Com isso, a atmosfera aborve mais humidade, o calor faz a massa quente e húmida subir ainda mais, provocando a condensação e, em consequência, a chuva.
O climatologista Ricardo Trigo, do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, recorda que estas condições também ocorreram em 1997, quando houve graves cheias no Alentejo. "A temperatura da água do mar estava cerca de dois graus acima do normal", afirma Ricardo Trigo.
A ocorrência de chuvas que parecem tropicais nesta altura do ano, segundo Trigo, não é, porém, anormal. Em terra, estamos no Outono, mas o oceano tem maior inércia térmica e ainda traz um resto do calor do Verão, potenciando mais chuvas.
Para complicar ainda mais a situação, o continente europeu está, desde meados de Outubro, sob uma fase negativa da oscilação do Atlântico Norte (NAO, na sigla em inglês), um fenómeno atmosférico que condiciona a meteorologia em parte do hemisfério Norte. Quando o índice NAO é positivo, tende a chover mais no Norte da Europa, deixando o Sul seco e ensolarado. Na NAO negativa - como agora - tende a ocorrer o contrário.
Outubro de 2006 assinalou o toque: foi o quarto mais chuvoso desde 1931. Novembro também começou na mesma linha, mas para os próximos dias a previsão é de acalmia: amanhã ainda haverá algumas nuvens e aguaceiros, mas depois o céu vai estar pouco nublado ou limpo.

Sugerir correcção