Dez anos depois, a Al-Jazira parte para a globalização

O canal árabe, que é hoje conhecido em todo o mundo graças aos vídeos de Bin Laden, vai ter uma versão em inglês

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O canal árabe tornou-se conhecido no mundo inteiro após os atentados de 11 de Setembro DR

A "CNN árabe" nasceu no dia 1 de Novembro de 1996 aproveitando os efectivos do efémero projecto que foi o canal árabe da BBC com sede na Arábia Saudita. Dez anos depois, a Al-Jazira "tem perspectivas muito promissoras uma vez que a vontade, o dinheiro e os profissionais estão disponíveis", disse à AFP o director editorial, Ahmed Al-Cheikh.

Inicialmente previsto para ser lançado em 2005, o projecto da Al-Jazira internacional deverá emitir, numa primeira fase, 12 horas por dia, antes de passar a emitir non-stop a partir de 1 de Janeiro de 2007. Com quatro centros regionais (Doha, Kuala Lumpur, Londres e Washington) e mais de 60 delegações em todo o mundo (a maioria das quais se situam no hemisfério sul), a Al-Jazira Satellite Network quer "assegurar um fluxo de informação de Sul para Norte". O objectivo é global mas Omar Bec, chefe de redacção do canal árabe, sublinha que a Al-Jazira "quer ser uma televisão de referência para o Médio Oriente e para África".

A Al-Jazira em língua árabe ganhou fama e audiências graças à cobertura que fez da intervenção militar norte-americana no Afeganistão em finais de 2001 e aos exclusivos mundiais que constituíram as transmissões dos vídeos de Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda.

Quebrar tabus

Muito criticada por Washington, que a acusa de ser porta-voz dos terroristas e dos grupos extremistas, nomeadamente no Iraque, a Al-Jazira é extremamente popular na "rua árabe" ao mesmo tempo que é dificilmente tolerada pelos regimes do Médio Oriente. O director da delegação de Beirute, Ghassan Ben Jeddou, considera que o canal "ofereceu ao cidadão árabe uma margem de liberdade" e "conseguiu "quebrar vários tabus impostos pelos governos e media oficiais".

Para Mahmoud Chammam, membro do conselho de administração da Al-Jazira Satellite Network, o que faz a força da sua televisão é "o jornalismo de investigação" que tem funcionado para "denunciar os problemas de corrupção e injustiça no mundo árabe".

Esta postura já produziu várias crises com alguns países árabes, nomeadamente com a Arábia Saudita que chamou o seu embaixador em Doha em 2002 depois da transmissão de um debate onde a família real saudita foi criticada. Na semana passada, foi a Tunísia que encerrou a sua embaixada na capital do Qatar para protestar contra a transmissão de uma entrevista com um opositor tunisino.

"O público da Al-Jazira internacional vai ser diferente do nosso, mas nós vamos coordenar a nossa política editorial através de reuniões quotidianas para chegarmos a acordo sobre termos controversos como "mártir", "terrorista" e "Resistência", por exemplo."

O grupo Al-Jazira (que vai ter também três canais de desporto e um de documentários e já tem dois sites na Internet), depende em grande parte de subsídios do Qatar e não "deseja a privatização", mesmo que parcial, garante Mohammad Badr Al-Sada, da direcção comercial da empresa. "Um governo que financia e dá uma margem de liberdade alargada é preferível do que um capital privado submetido a pressões comerciais", rematou Badr Al-Sada.

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