Um salão antigo onde se toca jazz

O que faz do Salão Brazil um sítio único é a sua localização, na Baixa de Coimbra, aliada ao charme de uma sala antiga onde há sempre música a tocar. Os próximos dias são de jazz. Por Maria João Lopes

Situado em plena Baixa de Coimbra, o Salão Brazil funciona como restaurante, bar e espaço cultural. O que torna as refeições e as noites agradáveis é, sobretudo, o charme de um salão antigo e amplo, com um pé-direito alto, uma mesa de bilhar meia esquecida a um canto e um palco improvisado, onde costuma haver concertos, por vezes inesperados.Nos próximos dias, na mesma altura em que se realiza em Coimbra mais uma edição do Jazz ao Centro, o Salão Brazil volta a acolher jam sessions. Acontecem sempre depois dos concertos no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) e enchem o espaço de gente. Há pessoas sentadas nas grandes janelas ou no chão daquele local de traça colonial. A música ecoa pelas ruelas da Baixa, meias adormecidas àquela hora tardia. Quem vem da Praça de 8 de Maio ouve, por estes dias, um burburinho de conversas e de palmas, e prolongados sopros de saxofone. Seguindo-os, encontra o salão.
De quinta a sábado, a partir da meia-noite, o Salão Brazil será O Lugar da Desordem, o nome do projecto de Paulo Curado. A acompanhar o saxofonista e flautista vão estar Bruno Pedroso na bateria e Ken Filiano no contrabaixo. A povoar as paredes, ainda uma exposição alusiva às edições anteriores do Jazz ao Centro.
Mas este não o único momento cultural que acontece no Salão Brazil. Ao longo do ano, ainda que a regularidade da agenda não seja apanágio do espaço, o local vai acolhendo muitas outras iniciativas. Neste momento, por exemplo, está patente até 20 de Novembro uma exposição de pintura de José Évora.
Telmo Costa, dono do estabelecimento, diz que no Salão Brazil há sempre tempo para mais um copo e dois dedos de conversa: "A ideia que queremos transmitir é a de que as pessoas podem vir cá jantar, sem levarem logo com a conta no fim. Não dizemos "boa noite, e obrigado". Queremos que apareçam às seis, sete da tarde e fiquem até às duas da manhã...", explica.
O salão já foi um conhecido espaço da cidade para jogar bilhar. Desse tempo resta apenas uma mesa de jogo. Está lá quase por uma questão de memória. Telmo Costa diz que já nem leva dinheiro pela utilização da mesa: "É para as pessoas jogarem no fim de jantar, se lhes apetecer... Ou enquanto esperam por alguém...", precisa.
O próximo objectivo é criar uma agenda cultural regular. "Para além dos concertos de jazz, queremos continuar a ter noites de fado", diz. Para já, é certo que, no último fim-de-semana de Novembro, vai actuar lá o Quarteto Minguante, e, no primeiro fim-de-semana de Dezembro, um grupo de mornas. A próxima exposição será do escultor Eduardo Loio.
Telmo Costa adquiriu o local por trespasse no dia 1 de Julho de 2004. Conta que o Salão Brazil já teve várias facetas, umas mais boémias, outras mais decadentes... Hoje em dia é, no fundo, um espaço que resiste de certa forma à modernidade. Mantém o passado plasmado na arquitectura e no próprio mobiliário. É característico, por isso. Telmo Costa diz ter registos do espaço que remontam a 1916. Mas à fachada antiga alia-se a contemporaneidade das jam sessions, entre outros eventos.
"No Carnaval, veio cá o [DJ] Afonso Macedo pôr música...", conta Telmo Costa, acrescentando que já realizaram também noites de reggae, de música de intervenção... "Fazemos a festa do 25 de Abril e a festa do 1.º de Maio", enumera, confessando andar em "conversações" com Paulo Furtado (Legendary Tiger Man, líder dos Wray Gunn e director artístico do Coimbra em Blues - Festival Internacional de Blues de Coimbra) para que, em Março, os blues se estendam também do TAGV até ao Salão Brazil. Para já, os próximos dias são de jazz.

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