Indústria do mobiliário do Vale do Sousa poderá ter nascido no Mosteiro de Vilela

Historiadores apontam os Cónegos Regrantes como precursores da actividade na região. Câmara de Paredes comprou edifício para lançar museu

O Mosteiro de Vilela, que a Câmara de Paredes adquiriu ontem para albergar um museu dedicado à arte do móvel, poderá ter sido o berço da indústria de mobiliário do Vale do Sousa, que actualmente emprega milhares de pessoas. Segundo historiadores, terão sido os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que habitaram aquele mosteiro durante séculos, que iniciaram na região o costume de trabalhar a madeira e produzir mobiliário.Os historiadores baseiam-se em engenhos que usavam a força das águas do rio Ferreira para cortar madeira e que se encontram nas imediações do Mosteiro de Vilela, que terá sido fundado pelo ano 1000 - existe notação do mosteiro desde 1030. As actividades terão começado pelo fabrico das alfaias agrícolas, porventura as charruas de madeira, detectadas em escavações arqueológicas, evoluindo posteriormente para outros artefactos e para os móveis.
O presidente da Câmara de Paredes, Celso Ferreira, nota que "havia fartura de madeira na região e os cónegos perceberam que tinham matéria-prima e um rio com força motriz suficiente para cortar e trabalhar a madeira". O mosteiro parece, assim, estar na génese da indústria actual do mobiliário no Vale do Sousa - um triângulo formado por Vilela, Lordelo e Rebordosa. Só nestas três freguesias do município de Paredes, a indústria de madeiras e móveis emprega hoje milhares de pessoas em mais de mil unidades fabris.

Um espaço para o futuro Museu das Artes do MóvelÉ neste contexto que surge a aquisição do Mosteiro de Vilela, cuja escritura foi ontem assinada. O monumento, cuja construção é anterior à fundação da nacionalidade, foi comprado por 525 mil euros, montante que inclui um terreno com cerca de 6000 metros quadrados.
Apesar de ter áreas bastantes degradadas, o imóvel ainda era parcialmente utilizado pelos ex-proprietários - duas famílias brasileiras de origens portuguesa e italiana que o adquiriram há 170 anos - nas suas férias em Portugal. Como explicou à agência Lusa o presidente da Câmara de Paredes, com a aquisição do mosteiro, a autarquia assegura um espaço para a instalação do futuro Museu das Artes do Móvel.
Um dos objectivos é "imortalizar a cultura artística e industrial do vale do rio Ferreira, inicialmente personificada pelos cónegos", mas o mosteiro será adaptado para ali instalar também salas de conferência e de exposição, bem como um restaurante.
A ambição da autarquia "de fazer regressar a casa a história do mobiliário", como sublinha o presidente da câmara, vai mais longe e, além do mosteiro, promete avançar a curto prazo com a aquisição dos três engenhos de cortar madeira identificados nas margens do rio Ferreira, dois em Lordelo e um em Rebordosa.
Além destes, na freguesia de Louredo existe outro engenho em muito bom estado, que a câmara adquiriu em Maio e que esconderá "uma verdadeira engenharia hidráulica". Embora mais recente, com apenas cerca de 150 anos, o engenho de Louredo é de grande dimensão - tem cerca de 400 metros de comprimento - e apresenta características únicas na região.
Com esta operação, Celso Ferreira diz-se empenhado "em fazer renascer a história do concelho de Paredes". Sobretudo porque o Mosteiro de Vilela irá inserir-se num circuito turístico mais abrangente, que inclui os engenhos das madeiras (o que hoje se designaria por serrações), a Torre dos Alcoforados, de construção medieval, também em Lordelo, a Senhora do Salto, em Aguiar de Sousa, célebre pelo desfiladeiro existente no rio Sousa, e o Mosteiro de Cete, cuja área envolvente a Câmara de Paredes também se propõe adquirir e requalificar num futuro próximo. Lusa

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