Pavilhão Rosa Mota O edifício que nunca se assumiu como um ícone da animação

Ao fim de 50 anos de existência, passaram pelo equipamento, entre outros, o ex-líder soviético Gorbatchov,
o Dalai Lama, cinco campeonatos do Mundo de hóquei em patins e o aceso congresso fundador do CDS

A Câmara do Porto assinala hoje, com um concerto de Jorge Palma, o cinquentenário do edifício modernista desenhado pelo arquitecto Carlos Loureiro que ocupou o espaço onde anteriormente existiu o Palácio de Cristal. Em vésperas da definição de um novo modelo de gestão do equipamento, já anunciada pela edilidade, a efeméride dificilmente suscitará grande entusiasmo: uma parte dos portuenses não perdoou ainda ao Pavilhão Rosa Mota (designação que adquiriu em 1991) o facto de a sua construção ter obrigado à demolição do edifício de granito, ferro e vidro inaugurado em 1865.Mais odiada do que amada, a calote semi-esférica e verde construída nos jardins do Palácio de Cristal é hoje um marco da paisagem portuense e o único equipamento polivalente de grandes dimensões de que a cidade dispõe. Mais do que isso, o Pavilhão Rosa Mota está indelevelmente inscrito na História da cidade e do país. Por ali passaram, entre muitos outros, o antigo presidente soviético Mikhail Gorbatchov (num comício de aniversário do PCP, na década de 1980), o atribulado congresso fundador do CDS (ver caixa) ou o Dalai Lama, líder espiritual dos budistas.

Cinco mundiais de hóquei ganhos por PortugalA história do Rosa Mota está, porém, sobretudo marcada por uma modalidade desportiva pouco praticada a nível mundial: o hóquei em patins. Foi para a realização de um campeonato do Mundo da modalidade que, em 1951, a Câmara do Porto decidiu demolir o antigo Palácio de Cristal. O Pavilhão dos Desportos desenhado por Carlos Loureiro começou a ser construído no início de 1952 e, poucos meses depois, com a abóbada ainda incompleta, recebeu o primeiro dos cinco mundiais ali disputados, todos ganhos pela selecção portuguesa.
O ano de 1952 é, aliás, a data de inauguração do Pavilhão dos Desportos que consta do site da Câmara do Porto, onde a re-inauguração do equipamento que hoje se assinala, por ocasião do 12º Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, em 10 de Outubro de 1956, nem sequer é referida. De resto, o edifício terá ficado concluído ainda em 1954. Daí para diante, o Pavilhão dos Desportos foi cumprindo a sua função até ao final da década de 80, acolhendo eventos desportivos (voltou a receber o Mundial de hóquei em 1958 e 1968), mas também políticos e industriais, sendo palco de espectáculos sazonais de circo e das feiras organizadas pela Associação Industrial Portuense que viriam a transferir-se para Leça da Palmeira após a construção da Exponor.
Findo este período, contudo, o pavilhão apresentava fortes sinais de degradação, passando a ser praticamente inútil também para a prática de desportos de alta competição. Rebaptizado em homenagem a Rosa Mota, a campeã olímpica da maratona natural do Porto, o equipamento veio a ser objecto de profundas obras de remodelação em 1990, reabrindo em Julho de 1991 para acolher a 30ª edição do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. Todavia, a filosofia da intervenção visou, desta feita, transformá-lo num "pequeno Paris-Bercy" - o grande pavilhão polivalente parisiense -, dotando-o de condições técnicas para a realização de inúmeros eventos, evitando-se a degradação com a substituição dos pisos consoante as modalidades a praticar.

A inauguração da Capital Europeia da CulturaApesar das expectativas então criadas, o Pavilhão Rosa Mota nunca chegou a assumir, porém, grande protagonismo na animação da cidade. Durante os primeiros tempos, acolheu ainda as modalidades amadoras do FC Porto, nomeadamente os jogos de basquetebol, tendo ali sido disputadas algumas das mais importantes partidas da melhor época de sempre da equipa a nível internacional.
Na memória ficam ainda a passagem do Dalai Lama, em 2001, um jogo de exibição dos Harlem Globetrotters, o concerto de inauguração da Capital Europeia da Cultura, a conclusão da edição de 1996 do Portugal Fashion (após o incêndio que, na primeira noite, destruiu o Coliseu do Porto), um Campeonato da Europa de Futsal ou, mais recentemente, os concertos do cantor canadiano Bryan Adams e dos Simply Red.
A realização no Rosa Mota das últimas edições da Feira do Livro do Porto tem sido, assim, o principal ponto de ligação entre o pavilhão e a cidade, a despeito de algumas realizações esporádicas: concertos de música popular, competições de trial, feiras de saúde, tecnologia ou columbofilia e congressos de fitness.
O espaço não tem, assim, sido devidamente rentabilizado, esperando-se que o novo modelo de gestão, a apresentar em breve, possa contribuir para aproximar o Rosa Mota dos ambiciosos objectivos que presidiram à sua remodelação no início da década de 1990.
1861 Lançamento da primeira pedra do Palácio de Cristal
1865 Inauguração do
Palácio de Cristal e dos jardins envolventes
1933 A Câmara do Porto adquire o recinto
1934 Realização da exposição colonial portuguesa
1950 Os Jardins do Palácio de Cristal começam a receber a Feira Popular
1951 Demolição do Palácio
de Cristal
1952 Decorre no Pavilhão dos Desportos, ainda inacabado, o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins
1954 Conclusão do pavilhão
1956 Re-inauguração do pavilhão com a organização do 12º Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins
1975 Realização do congresso fundador do CDS
1990 Saída da feira popular
1991 Inauguração do Pavilhão Rosa Mota, após profundas obras de beneficiação, com mais um Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins
Área total 112 mil metros quadrados
Altura 30 metros
Capacidade 4568 lugares sentados
Características pavilhão polivalente com bancadas fixas e retrácteis, podendo acolher várias modalidades desportivas de pavilhão, mas também congressos, feiras e espectáculos culturais. Dispõe ainda de gabinetes para reuniões de trabalho, podendo receber 150 pessoas sentadas, sala de musculação, ginásio, gabinete médico, oito balneários para atletas, cada um com capacidade para receber cerca de 15 atletas em simultâneo, e dois balneários para árbitros.

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