Gillo Pontecorvo (1919-2006) O realizador de A Batalha de Argel

O mundo cultural e político italiano prestou ontem homenagem ao realizador Gillo Pontecorvo, que morreu na quinta-feira, aos 86 anos. Era o autor de A Batalha de Argel (1966), "um dos melhores filmes políticos alguma vez realizados", na opinião de um mestre do cinema italiano, Dino Risi. Premiado com o Leão de Ouro de Veneza, A Batalha de Argel mostrava a luta pelo controlo do Casbah de Argel entre pára-quedistas franceses e os homens da Frente de Libertação Nacional (FLN), em 1957. Foi rodado com actores não profissionais, inspirando-se nos relatos de Yacef Saadi, um dos chefes militares da FLN, que interpreta o seu próprio papel. Esteve interdito em França durante anos, em 1971 teve estreia esporádica, foi retirado das salas e só regressou em 2004."Foi um filme corajoso", permitiu que a Itália atingisse "um nível de excelência no plano internacional" com o Leão de Ouro em Veneza (e nomeações para os Óscares), disse o ministro italiano da Cultura, Francesco Rutelli.
Marcado pela guerra da Argélia, Pontecorvo quis sempre realizar uma longa-metragem sobre o conflito, mas só o pôde fazer três anos depois do fim das hostilidades, quando Yacef Saadi lhe propôs a ideia de um filme baseado na sua experiência de combate. O resultado era de tal forma realista que muitos espectadores pensavam tratar-se de um documentário, não de um filme de ficção.
Em 2003, A Batalha de Argel foi projectado em Washington, no Pentágono, como preparação para a invasão no Iraque - disse-se que continha lições importantes sobre a guerrilha urbana.
Gillo Pontecorvo nasceu em Pisa, em 1919, fez estudos de Química e durante a II Guerra Mundial trabalhou para o Partido Comunista Italiano. Foi correspondente em Paris de vários jornais transalpinos, e foi na capital francesa que viu Paisà, de Rossellini. Comprou logo uma câmara de filmar e começou a rodar curtas-metragens documentais.
Kapo (1959), sobre uma rapariga judia num campo de concentração que se torna auxiliar dos oficiais nazis - filme que ainda hoje é invocado quando se quer defender aquilo que o cinema moralmente se deve abster de mostrar -, e Queimada (1971), sobre o colonialismo, desta vez nas Antilhas do século XIX, com Marlon Brando, são os seus outros filmes mais conhecidos.
Filmou pela última vez em 1979, Ogro, sobre o terrorismo em Espanha e sobre o fim da ditadura. E entre 1992 e 1996 foi director do Festival de Veneza. Fez assim o seu retrato, em 1983, ao diário britânico The Guardian: "Não sou um revolucionário a qualquer preço. Sou simplesmente um homem de esquerda, como muitos judeus italianos". V.C.

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