Souto Moura sentiu lugar em perigo durante alguns episódios do processo Casa Pia

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Sublinhado que nunca mentiu deliberadamente sobre o processo Casa Pia, Souto Moura referiu que se viu pressionadíssimo pelo assédio da Comunicação Social Paulo Carriço/Lusa (arquivo)

No balanço do mandato, que termina dia 7 de Outubro, Souto Moura identifica vários episódios que afirma ter interpretado como tentativas de criar uma ruptura com o Presidente da República Jorge Sampaio.

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No balanço do mandato, que termina dia 7 de Outubro, Souto Moura identifica vários episódios que afirma ter interpretado como tentativas de criar uma ruptura com o Presidente da República Jorge Sampaio.

Apesar de sublinhar que sempre depositou "uma grande confiança no Presidente da República", afirma que "houve três ou quatro episódios" que interpretou como "tentativas claras" de criar uma ruptura com o Presidente da República (PR).

A primeira situação, que elege como o pior momento do mandato, foi "o episódio da carta anónima junta ao processo Casa Pia e em que se falava de diversas figuras, incluindo o próprio PR".

A "publicação das listas dos nomes das fotografias que a polícia usou para identificar pessoas" foi outra situação referida por Souto Moura, seguida da "crise da demissão de Adelino Salvado da direcção da Polícia Judiciária", afirma.

"E o 'envelope 9' - a uma semana do Presidente Sampaio cessar funções. Interpretei o caso como a derradeira tentativa de o convencer a pôr-me fora", conclui Souto Moura.

Souto Moura é substituído pelo juiz conselheiro Fernando Pinto Monteiro, que toma posse dia 9 de Outubro.

O ainda procurador diz que "se voltasse atrás, aceitava o cargo à mesma" apesar de admitir que durante o mandato lhe ocorreu demitir-se.

"Não digo que não me tivesse passado pela cabeça deixar o cargo, mas achei sempre que havia pessoas que mereciam que eu continuasse: além dos que trabalharam no processo, as vítimas e a directora da Casa Pia", revelou.

Questionado sobre se foi alvo de pressões políticas, Souto Moura diz não se lembrar de as ter sofrido, concretamente do Governo, apesar de ter trabalho com quatro ministros da Justiça.

Souto Moura reconheceu que as restrições orçamentais se sentiam no quotidiano da Procuradoria, acrescentando que "foi uma situação-limite que depois o Ministério da Justiça corrigiu.

Questionado sobre se reconhecia ter cometido gafes no exercício do cargo, o procurador admitiu ter tido "duas ou três intervenções de quem não está nada à vontade com a comunicação social".

"O que acho extraordinário é que a imagem que me colaram foi a de que sou um indivíduo que de vez em quando diz uns disparates num vão de escada e nada mais interessou para me avaliarem", argumentou.

Sublinhado que nunca mentiu deliberadamente sobre o processo Casa Pia, Souto Moura referiu que se viu "pressionadíssimo" pelo assédio da Comunicação Social.

"Vi-me pressionadíssimo. E quem não me largava a porta era quem depois me criticava por dizer coisas que não devia", disse.

Ainda sobre a comunicação social, o procurador reconhece que favoreceu a fase inicial o processo Casa Pia, mas, depois, atribui-lhe "um papel altamente negativo no que diz respeito às violações do segredo de justiça".

Souto Moura classifica de "pouca-vergonha" a revelação de escutas do processo, revelando que o deixou "incomodadíssimo".