Torne-se perito

Dame Helen Mirren é rainha

Uma actriz de quem se fala: Helen Mirren. Faz de Isabel II de Inglaterra em The Queen,
de Stephen Frears. O olhar sobre uma família em crise - a família real - nas semanas
a seguir à morte de Lady Di. Picante.

Uma actriz de quem (já) se fala. Para prémios, até para o Óscar. Dame Helen Mirren vai ser rainha, Isabel II de Inglaterra. Os ingleses não aguentam esperar para ver. Percebe-se porquê: The Queen, de Stephen Frears, estreia na competição de Veneza, conta a história de uma família em crise: a família real. Mostra os esforços de um primeiro-ministro, esse mesmo, Tony Blair, para salvar Isabel II de uma potencial catástrofe de relações públicas, na ressaca da morte da princesa Diana de Gales. Quando as notícias da morte de Diana chegam aos incrédulos britânicos, Sua Majestade retira-se para o castelo de Balmoral, incapaz de compreender a dimensão da resposta dos britânicos à tragédia. Para Tony Blair (o actor Michael Sheen) a necessidade popular do apoio e da cumplicidade dos seus soberanos é palpável e, enquanto a onda de emoção por Diana vai crescendo a olhos vistos, Blair tem de encontrar formas de estabelecer uma ligação entre a Rainha e os britânicos.
"Ficaria devastada se ela [a Rainha] pensar que a traí no retrato que fiz", disse Helen Mirren, 60 anos, ao britânico The Observer. "Não tentei propriamente imitá-la", continuou, embora seja a primeira a reconhecer aquilo que as imagens evidenciam: uma incrível familiaridade nos traços fisionómicos (quando era mais jovem, achavam-na parecida com a Princesa Margarida, irmã de Isabel II). Mirren revelou que se abeirou de Isabel II como um pintor se abeira de um modelo para um retrato: "[A personagem] é a minha impressão dela através da minha própria psicologia, dos meus preconceitos, o que quer que seja. Um artista faz tanto parte do retrato como a pessoa que está ali sentada [a ser retratada]. Foi um momento incrivelmente dramático e sério para a monarquia. Revelou que a rainha podia ser muito teimosa e que considerava o protocolo mais importante do que tudo o resto - um sentido de tradição que, se é retirado, tudo aquilo começa a desmoronar-se."
Baseado em entrevistas a especialistas e insiders nos corredores de Buckingham e arredores, este retrato da família real - revelador, e o picante está a encher de curiosidade e, consoante as sensibilidades, de reservas os britânicos - é, disse com humor Stephen Frears ao diário espanhol El País, não o seu "filme mais político, mas o que tem mais políticos". E continuou, no mesmo tom ambivalente: "A rainha Isabel II esteve mais presente na minha vida do que a minha mãe e faz parte do meu subconsciente. O filme é sobretudo um divertimento. E também um filme muito sóbrio sobre a Constituição inglesa." Frears, assinale-se, fez recentemente para televisão um filme que é um retrato de Tony Blair, The Deal.
Helen Mirren (nome verdadeiro: Ilyena Lydia Mironoff, filha de emigrantes russos) está já a ser considerada uma das actrizes do festival e uma oscarizável. Já lá esteve, como nomeada, por duas vezes: por Gosford Park (2001), de Robert Altman, por The Madness of King George (1994), de Nicholas Hytner. Que lhe valera um prémio de interpretação em Cannes (antes já recebera outro, por Cal, de Pat O"Connor, em 1984). E onde já fora rainha. A realeza não é estranha a esta filha de um taxista russo socialista: Isabel I num recente telefilme para a BBC, várias Cleópatras, a voz da rainha na animação A Princesa do Egipto... Em 2003 recebeu o título de Dame da coroa britânica.

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