O elefante Babar comemora 75 anos

Para uns, representa os valores franceses. Para outros, o pior do colonialismo. A primeira-dama americana, Laura Bush, é fã do elefante

É uma das personagens infantis mais populares em todo o mundo e também uma das mais antigas. O elefante Babar, o simpático rei elefante criado pelo francês Jean de Brunhoff e pela sua mulher Cécile, comemora 75 anos.A França está a celebrar o aniversário de Babar como se ele fosse de facto um rei. Os correios franceses lançaram em Junho um selo dedicado ao pequeno elefante, com uma tiragem de 17 milhões de exemplares. Como "prenda", Babar recebeu ainda um acordo de marketing com o Ministro do Ambiente francês e o lançamento de um novo livro: A Volta ao Mundo de Babar. "Não é um livro só com um tema", disse ao El Pais Laurent de Brunhoff, que escreve os livros desde 1946, após a morte do pai Jean. "Creio que se a personagem continua a ser atractiva é porque encarna uma imagem infantil de felicidade familiar."
Tudo começou quando Cécile de Brunhoff, pianista, inventou a história para ajudar a adormecer os seus filhos, Laurent e Mathieu. Contou-lhes a aventura de um elefante que foge para a cidade após a mãe ter sido morta por um caçador. Quando o pequeno elefante regressa ao campo é coroado rei. As crianças gostaram tanto da história que o marido de Cécile, pintor, a pôs no papel.
O irmão de Brunhoff, Michel, e o seu cunhado Lucien Voguel, levaram depois o livro familiar à editora Jardim des Modes que, em 1931, publica A História de Babar, o pequeno elefante. Foi o princípio de um império de livros, vídeos, jogos, programas de televisão, roupa e snacks inspirados na personagem infantil.
Babar é, porém, alvo de controvérsia. A primeira-dama americana Laura Bush é fã e colocou os livros do elefante na lista da sua iniciativa de incentivo à leitura. Para a romancista Alison Lurie, vencedora do prémio Pulitzer em 1984, Babar representa os valores da burguesia francesa "próspera, instruída e cultivada". Por outro lado, o escritor Ariel Dorfman acusa Brunhoff de promover o colonialismo francês e de dar uma visão distorcida da história. O sociólogo Herbert Kohl escreveu mesmo o ensaio "Deveremos queimar o Babar?", onde argumentava que o reino do elefante era dominado pelo racismo e sexismo. Laurent de Brunhoff diz que "é ridículo insistir que Babar representa o mundo colonial quando algumas das suas histórias foram escritas num contexto em que a França era uma potência colonial".
Apesar dos 8 milhões de cópias vendidas por todo o mundo, Babar não convence as crianças portuguesas. A Verbo, uma das editoras que publicava os livros em Portugal em conjunto com a Plátano e o Círculo de Leitores, abandonou a edição das histórias do pequeno elefante por "critérios comerciais", disse Graça Leite, gestora de marketing da Verbo. Quem agora conquista os mais novos é o boneco Noddy que, segundo a gestora, "é a personagem mais querida junto dos pequeninos".
Para Laurent de Brunhoff, Babar está mesmo condenado à morte: "Irá morrer comigo a não ser que o meu filho queira continuar a aventura. E ele sempre me disse que não"

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