Vivienne Westwood A princesa punk, 30 anos depois

Princess Punk, uma exposição que o Victoria and Albert Museum dedicou a Vivienne Westwood, já fez mais de meio milhão de visitantes. O que é que esta estilista tem? Tudo. Por Vanessa Rato

Cabelos em pé, calças rotas coladas às pernas ou pretas, ultralargas, com suspensórios, T-shirts desfeitas e com a cara de Isabel II estampada, blusões e botas de inspiração militar, soutiens à mostra, uma invasão de alfinetes-de-ama e correntes de metal, fechos éclair a despropósito, descolorações e olhos sublinhados a negro.A meio do flower power, quando os primeiros hippies de saia indiana e sandálias ainda marchavam sobre a Terra, a britânica Vivienne Westwood foi isto: a estilista por detrás de uma das maiores revoluções do Reino Unido - o punk. Trinta anos depois ela é a mulher que leva mais de meio milhão de pessoas a ver uma exposição de moda.
A mostra em questão, a que o Victoria and Albert Museum chamou Princess Punk e que reúne cerca de 150 das suas criações, foi inaugurada há dois anos em Londres. Entretanto ainda não parou. Depois de uma breve escala na Europa continental - Düsseldorf - já esteve na Austrália e no Japão. Agora entrou em digressão asiática, com passagem por capitais tão inesperadas como Banguecoque, na Tailândia, onde está até 24 de Setembro.
O que é que Westwood tem? É incomparável - por exemplo, na irreverência, uma das chaves de ouro do seu sucesso, até hoje.
Esta é a história de alguém que pegou nos grandes paradigmas da moda e os virou do avesso - literalmente.
Foi em 1971. Depois de abandonar um primeiro casamento e uma vida como mãe e professora primária, Vivienne Westwood e o seu segundo companheiro, o ambicioso produtor musical Malcolm McLaren, abrem a Let It Rock em King"s Road.
Não era apenas a primeira loja de roupa do casal - era o princípio do fim da Grã-Bretanha titilante mas bem comportada dos Beatles. Contra a classe média, surgia a ideia de um proletariado em revolta, anarquista, violentamente sexual e tudo menos conformado com o lado politicamente correcto da estratificada sociedade britânica. Uma revolução que em 1976 haveria de entrar pelas salas de milhares de puritanas famílias adentro quando os Sex Pistols, inventados por McLaren e vestidos por Westwood, foram à televisão no horário nobre da hora do chá promover o seu primeiro single - Anarchy in the UK - e Johnny Rotten se saiu com um sonoro "fuck off" dito pela primeira vez na história em frente às câmaras.

Bruxas, Oeste e princesasEntre 1971 e 1981 a Let It Rock, que no início vendia roupa e design e discos de rock dos anos 50, haveria de mudar várias vezes de enfoque e nome. Em 1972, como Too Fast To Live, Too Young To Die, passaria a vender artigos de cabedal e material pornográfico; em 1974, como Sex, roupa e adereços sado-masoquistas; em 1976, como Seditoranies - Clothes for Heroes, toda a parafernália do ambiente punk.
Em 1981, quando a loja passa a chamar-se World"s End, Westwood faz a sua primeira colecção completa e um desfile intitulado Pirates. É aqui que começa a revelar-se uma linguagem baseada na reinterpretação da história da moda, das suas técnicas fundadoras e elementos centrais.
Apropriação, subversão, excesso barroco e paródico - estas tornar-se-iam características constantes do seu trabalho.
Pirates partiu de uma reactualização da imagem dos piratas britânicos do século XVIII: calças justas nos tornozelos e largas na pélvis, camisas com folhos e dentes de ouro. No ano seguinte Westwood era a primeira britânica a apresentar-se em Paris depois de Mary Quant.
E entretanto estavam passados 10 anos sobre o punk. Seguiram-se colecções sobre moda primitiva, bruxas e o oeste americano. Em 1985, da vaga yuppi dos ombros largos e saia pelo joelho, Westwood faz inversão de marcha e regressa à mulher hiperfeminina da corte britânica e francesa, numa colecção com linhas de princesa e cinturas reduzidas a corpete.
A partir daqui elementos como o tweed, os kilts, as ancas e os rabos armados, as bóinas e as meias pelo joelho, com ou sem ligas, surgiriam em reinterpretações sucessivas, tal como os sapatos de plataforma e salto vertiginosos.
Quando Princess Punk esteve montada no Victoria and Albert, à entrada estava um relógio com os ponteiros a andar rapidamente para trás, um dos adereços da Let It Rock. "A última coisa que me interessa é acertar o passo com os tempos. Prefiro ir mais depressa do que isso", disse Westwood no dia da inauguração ao diário britânico The Guardian.
Aos 63 anos - fez 65 em Abril -, Westwood terá achado por bem não aparecer na festa sem cuecas (e fazer questão de o mostrar), como aconteceu em 1992, quando esteve no Palácio de Buckingham para receber das mãos da Rainha a condecoração de oficial da Ordem do Império Britânico. Mas não resistiu a um vestido vermelho e cornos brancos na testa. Punk"s not dead.

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