Tribunal recusa recontagem dos votos no México

Partidários do candidato de esquerda López Obrador insultam juízes

O Tribunal Federal Eleitoral do México (Trife) recusou a contagem da totalidade dos votos das eleições do dia 2 de Julho, como vinha exigindo o candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador, apoiado pelo Partido da Revolução Democrática, cedendo apenas à recontagem dos boletins de 11 mil mesas onde terão sido cometidas anomalias. Activistas do virtual perdedor da corrida à porta da instância proferiram insultos contra os julgadores. No rescaldo das mais tensas eleições da história do México, o Instituto Federal Eleitoral, que comandou todas as operações da votação, concluiu pela vitória do corredor conservador Felipe Calderón, do Partido de Acção Nacional (PAN) por uma diferença de apenas 234.934 votos sobre o adversário, que recorreu do escrutínio alegando várias irregularidades e mesmo "fraude". Uma delas era a existência de 2,6 milhões de votos "perdidos", a diferença entre o número de votantes e dos boletins realmente colocados das urnas dos 300 distritos eleitorais.
A recusa de ordenar a recontagem de 41,7 milhões de votos foi adoptada por unanimidade pelos sete juízes da instância, a mais alta da hierarquia do sistema eleitoral do país: "Consideramos infundado o pedido da Coligação [para o Bem de Todos] para que os votos fosse recontada a totalidade das secções de voto instaladas para a eleição do Presidente da República", declarou o presidente do Trife, Leonel Castillo.
Os magistrados consideraram improcedente a "acumulação" de pedidos a todos os distritos, como pedia a requerente, aceitando todavia uma nova contagem dos boletins de 11.839 das 130.477 mesas que no princípio do mês passado receberam os votos dos mexicanos, metade por Calderón, metade, menos um bocadinho, ou "um cabelo", como lhe chamou um analista, para Obrador.
Os representantes da coligação de esquerda abandonaram a sessão do tribunal antes da decisão final depois de considerar difícil um novo escrutínio da totalidade dos votos.

Tensão na capitalA esquerda exigira a contagem de todos os votos das eleições sob o slogan "boletim a boletim, secção a secção, voto a voto", com o objectivo de dissipar as dúvidas sobre o processo eleitoral, entretanto avalizado pela generalidade das missões nacionais e estrangeiras de observadores.
O veredicto ocorreu quando milhares de activistas e simpatizantes de Obrador bloqueavam as artérias mais importantes da Cidade do México, provocando enormes engarrafamentos. Os mais determinados espalharam-se por quase meia centena de acampamentos. A iniciativa não caiu bem entre a população em geral e foi aproveitada à direita. O Presidente cessante Vicente Fox (PAN) chegou a pedir às autoridades da cidade que mandassem desimpedir as ruas.
À porta do Trife, uma centena de partidários de Obrador, furiosos, gritaram impropérios contra os juízes. Porém até ao fim do dia (hora de Lisboa) não se tinham registado outros incidentes.
O Tribunal Federal Eleitoral, a última instância do sistema, tem um mês para proclamar o vencedor das eleições do dia 2 do mês passado, as primeiras que a esquerda mexicana sonhou ganhar no país.
O partido de Felipe Calderón referiu-se à decisão do Trife como "conforme ao direito" e "correcta".

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