Sanitários inovadores no Boom Festival de Idanha-a-Nova

Festival de música electrónica será a "prova de fogo" para o WC sem água

Sanitários que não precisam de água e chuveiros concebidos para a poupar vão ser testados em Idanha-a-Nova durante o Boom Festival 2006, festival de música electrónica onde são esperadas cerca de 20 mil pessoas.O Boom Festival 2006 é uma iniciativa bienal de "arte global", ligada à música electrónica de características alternativas (psy-trance), cuja sexta edição tem como tema a ecologia e decorre nos arredores de Idanha-a-Nova, na Herdade do Torrão, entre 3 e 9 de Agosto.
As casas de banho e chuveiros ecológicos chegam a Portugal através de responsáveis brasileiros do IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado), entidade com oito anos que promove a existência de comunidades capazes de suprir as suas necessidades básicas de forma ecológica, eficiente e com baixo custo.
"As casas de banho ecológicas eliminam o uso da água. Não faz sentido, especialmente nos tempos que correm, misturar água, um bem precioso, com dejectos humanos", afirmou à Lusa André Soares, investigador do IPEC. O sistema funciona adicionando uma determinada quantidade de serradura aos dejectos humanos, que, por acção do sol, são, por sua vez, transformados em fertilizante orgânico.
O processo, denominado compostagem termofílica, é indicado para utilização em locais onde não há disponibilidade de água ou de tratamento de esgotos. Em vez de água, "que vai ser poluída e desperdiçada na descarga", é adicionada matéria orgânica seca (serradura) aos dejectos humanos. Depois (os dejectos) são deixados ao sol a uma temperatura de cerca de 65 graus, resultando na esterilização de todos os agentes patogénicos", explica André Soares. Quatro meses volvidos, o processo de esterilização e aptidão de uso como fertilizante está concluído e o adubo pronto para ser utilizado nas culturas agrícolas.
No recinto do Boom Festival, situado nas margens da albufeira da Barragem do Marechal Carmona, estão instalados 18 sanitários que utilizam aquela "tecnologia natural", a qual, garante André Soares, "não tem cheiros, ao contrário dos sanitários "portáteis" tradicionais, que têm muitos inconvenientes: cheiram muito mal e utilizam produtos químicos e água para limpeza".
O sistema foi financiado pela Fundação Banco do Brasil e apresentado em 2005 naquele país, estando a ser utilizado em programas sociais no Nordeste, "também como alternativa de renda para famílias pobres", afirma André Soares. "É bom para o ambiente e pode ser até um negócio. A utilização como fertilizante é uma solução rural perfeita".
Outro projecto com origem no IPEC, também em teste no Boom Festival, diz respeito a chuveiros que permitem poupar água, acoplados a um sistema que reduz significativamente o débito de efluentes para as estações de tratamento de águas residuais (ETAR). No total são 56 chuveiros, instalados numa elevação sobranceira ao recinto do festival, onde a quantidade de água disponibilizada a cada utilizador é reduzida a cinco litros por duche. "Uma válvula regula o fluxo para dez por cento de um duche normal, cinco litros de água por utilizador".
Para além dos sanitários e chuveiros ecológicos, o Boom Festival promove a preservação da Natureza através da utilização, nas construções, de madeira recuperada após os incêndios florestais de 2005 no concelho ou materiais utilizados em anteriores edições do evento.
Outra novidade diz respeito à utilização de bambu em edifícios, inspirados nos pagodes do Oriente, obra do arquitecto indonésio Amir Rabik. Durante a construção de um pavilhão que vai acolher conferências e outras actividades, Amir Rabik confessou-se "chocado pela positiva" com o espaço da herdade, nas margens da albufeira. O arquitecto vai aplicar as mesmas técnicas de construção "tradicional" que está a desenvolver numa estância turística numa ilha indonésia. "O bambu é muito fácil de ser trabalhado, muito forte, flexível e durável. É uma maravilha ecológica como material de construção", garantiu. público/lusa

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