CARLOS GHOSN Mais conhecido como o "imperator"

Ícone do management moderno e do capitalismo internacional, o patrão da Renault e da Nissan acredita que, na globalização, o futuro pertence às empresas multiculturais que tentem desenvolver sinergias.

Ana Navarro Pedro, Paris

Nunca Carlos Ghosn mereceu tanto a sua alcunha de Imperator: Agora que o gigante americano General Motors aceitou discutir a ideia de uma aliança com a Renault e a Nissan, esboça-se a perspectiva do nascimento de um imenso império industrial automóvel, "governado" pelo patrão do construtor francês e da empresa japonesa. O empresário francês, mas de origem brasileira e libanesa, foi a trave-mestre da audaciosa aliança franco-nipónica, em 1996. Nesse ano, os meios financeiros condenaram de antemão os métodos de Carlos Ghosn. Anos depois, a imprensa económica internacional punha Carlos Ghosn no pódio dos dez empresários mais poderosos do mundo.
Carlos Ghosn nasceu em 1954, em Porto Velho, numa família libanesa imigrada no Brasil. Tinha seis anos quando voltou para o Líbano com os pais, que o inscrevem numa escola de jesuítas. Mais tarde, o futuro patrão da Renault diria que foi o ensino dos jesuítas que lhe deu "o gosto do desafio e da competitividade". Mas é em França que estuda engenharia e que começa depois a trabalhar no grupo Michelin, onde permanecerá até 1996, quando integra a equipa da Renault.
O construtor automóvel francês - dirigido na época por Louis Schweitzer - sela uma aliança com a Nissan, à beira da falência. Em 1999, a Renault decide enviar Carlos Ghosn ao Japão para relançar o grupo. "Quando cheguei à Nissan, não levei um plano, tinha apenas uma folha em branco nas mãos", conta esta patrão que fala cinco línguas (português, árabe, francês, inglês e espanhol).
O empresário opta por uma reestruturação industrial que os especialistas consideram irrealizável neste país: forte diminuição dos custos de compra impostos aos fornecedores e despedimento de vários milhares de operários num país habituado ao emprego para a vida inteira.
Três anos depois, a dívida da Nissan está reduzida a zero, os lucros aumentaram 33 por cento e o grupo automóvel é o mais rentável do mundo, com uma margem operacional de 11 por cento. Carlos Ghosn torna-se numa vedeta adulada no Japão. A imprensa económica internacional dá-lhe a sua primeira alcunha: "cost killer".
O "método Ghosn" repousa num princípio simples, mas que raros são os patrões que o sabem aplicar: a motivação. "A motivação é o elemento mais importante da força de uma empresa. A solução está sempre nas pessoas que fazem a empresa", explica Carlos Ghosn em todas as entrevistas: "O segredo está em saber motivá-las e mobilizá-las em torno de objectivos muito claros e indiscutíveis, integrando-as no processo de procura de soluções".
Muitos observadores pensam que Ghosn e Schweitzer irão defrontar-se num combate mortal pelo controlo da Renault. Mas o patrão do grupo francês conclui muito depressa que Ghosn é o homem ideal para lhe suceder e sela um acordo com ele nesse sentido. A transição de poder, em Abril de 2005, fez-se assim sem convulsões e Ghosn recusa uma oferta para dirigir a Ford.
Ghosn acumula ainda a presidência
da Nissan, tendo nomeado apenas um director executivo japonês para as questões do dia-a-dia. Patrão poliglota e nómada, Carlos Ghosn afirma que na globalização, o futuro pertence às empresas multiculturais que tentem desenvolver sinergias, no respeito das diversas identidades. Recentemente, renunciou a uma fusão com o grupo alemão DaimlerChrysler, que cobiçava. Mas Carlos Ghosn sempre pensou que o casamento da Renault com a Nissan podia evoluir para um confortável "ménage à trois". A General Motors poderá oferecer-lhe esta oportunidade.

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