Helga de Alvear "A colecção é a emoção da minha vida"

São 100 obras de arte, parte da colecção da galerista espanhola Helga de Alvear. Antes de se transformar num museu em Cáceres, é mostrada no CCB

A instalação de som e luz de Angela Bullock é uma das últimas aquisições da galerista e coleccionadora espanhola Helga de Alvear, a quem o Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, dedica uma exposição, que será inaugurada hoje à noite. É uma obra complexa, com referências a Marcel Duchamp, espelhando o gosto de Helga Alvear, que diz que o que mais a emociona é trabalhar com arte experimental e artistas jovens. Floresta Desencantada foi comprada em Outubro em Berlim, numa exposição dedicada aos finalistas do Prémio da Nationalgalerie para Jovens Artistas, e antes de chegar a Lisboa esteve na trienal da Tate Britain, em Londres. "Ela é uma pessoa que tem a ambição de estar em Madrid e ter uma galeria que trabalha a uma escala internacional. Tem uma atitude muito corajosa, mostrando projectos difíceis", diz o escultor José Pedro Croft, um dos artistas portugueses que Helga de Alvear já expôs e de quem tem peças na colecção. Um dos exemplos foi o trabalho do artista Santiago Sierra, que ocupou a galeria com 100 desempregados, alguns estrangeiros ilegais, para a chamar a atenção sobre a sua invisibilidade.
Com a sua galeria ao pé do Museu Rainha Sofia, onde mostra regularmente arte contemporânea internacional, Helga de Alvear é "uma galerista de referência em Espanha" e considerada "uma grande coleccionadora".
No próximo ano, a sua colecção de 2000 peças será transformada num museu em Cáceres. Em Lisboa, mostram-se 100 dessas obras, entre as quais é possível encontrar trabalhos de nomes históricos, como Joseph Beuys, Dan Flavin ou Hélio Oiticica. Há vários portugueses, como Croft ou Helena Almeida, mas também artistas mais jovens como Joana Vasconcelos.
Para Helga de Alvear, o trabalho principal de uma galerista "é fomentar a cultura", mostrando obras que acredita serem importantes. Na galeria, só expõe o que gosta.
Muita fotografia
Helga de Alvear começou a comprar arte em 1967, a uma amiga galerista, Juana Mordó. Quase 20 anos depois, ficou com a galeria da amiga e em 1995 mudou-se para perto do Rainha Sofia, abrindo um espaço com o seu nome. Mas ser galerista sem coleccionar nunca fez sentido para esta mulher que nasceu perto de Frankfurt em 1932 e viajou para Espanha para praticar a língua: "A colecção é tudo, é a emoção da minha vida. Há muitos galeristas que também compram arte, mas há outros que a vêem como um simples negócio. Para isso, é melhor comprar um supermercado ou uma sapataria."
É difícil lembrar-se do primeiro artista português com quem começou a trabalhar. Talvez Helena Almeida, há seis anos. "Nunca olhei para o artista pela sua nacionalidade. O que me interessa é a obra de arte, não a pessoa." Foi em 2002 que Helena Almeida fez a primeira exposição na galeria: "Em 2000, estava a fazer a exposição no Centro Galego de Arte Contemporânea e ela foi lá ver. Mostrou-se muito interessada, veio a Lisboa ver os meus trabalhos e propôs-me ir ver o espaço a Madrid. Fiquei encantada porque a conhecia como a melhor galeria de Madrid. Foi assim um sonho." No ano seguinte, Helena Almedia ganhou o Prémio PhotoEspaña, por causa da exposição. "Gostei imenso de trabalhar com ela. É uma pessoa muito eficaz. O artista sente-se muito seguro, amparado e protegido, porque as coisas funcionam."
Se no CCB se vê muita fotografia, Helga de Alvear diz que não privilegia nenhum media em especial. "Comecei a colecção, de uma maneira forte, quando era o momento da fotografia, mais barata do que a pintura. Começa-se muito timidamente, porque não sabemos se fazemos bem ou mal e não nos atrevemos a gastar muito dinheiro. Ao princípio, necessitamos de conselhos..." Hoje, o trabalho dos galeristas é muito mais fácil do que quando começou. "Os países como a Espanha e Portugal interessam-se muito mais por arte. Era muito difícil, as pessoas tinham outras prioridades, comprar uma casa, um carro. Afinal, a arte é um luxo e isso há que nunca esquecê-lo. Não é necessário muito dinheiro, mas só se compra quando já se tem tudo." A Arco, a feira de arte de Madrid, ajudou muito. Actualmente, há muito mais coleccionadores e até a classe média compra arte.
Para começar a comprar arte, a primeira coisa a fazer não é procurar um galerista, mesmo que bom, mas frequentar o mundo da arte: "Não se deve comprar imediatamente. É preciso começar por ver exposições. Primeiro, ir aos museus, depois às galerias. E pouco a pouco vai-se aprendendo. Deve-se comprar catálogos, revistas de arte." Ou seja, antes de comprar, é necessário educar o gosto: "É igual a qualquer outra carreira. Toda a gente pensa que sabe de arte desde que nasceu. Todo o mundo opina. Um médico tem de fazer uma carreira... Em arte é igual. Mas toda a gente opina sem saber nada."

Helga de Alvear -
Conceitos para Uma
Exposição
LISBOA CCB. De 3.ª a dom., das 10h às 19h.
Até 22 de Outubro.

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