Austrália denuncia "problema significativo de governação" em Timor-Leste

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Os militares australianos afirmam que vão responder a possíveis ataques Antonio Dasiparu/EPA

"Não vale a pena andarmos a enganar-nos. O país não tem sido bem governado e espero que a experiência para os que estão em cargos eleitos, de terem a necessidade de pedir ajuda ao exterior, induza um comportamento apropriado no país", prosseguiu Howard em declarações à rádio australiana ABC.

O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, em declarações à Lusa, garantiu hoje a unidade do Governo e voltou a insistir nas suas competências em matéria de segurança, repetindo a tese de que há "uma coordenação" entre o Governo e a Presidência da República na gestão da crise.

No entanto, a mulher de Xanana Gusmão, a australiana Kirsty Sword, garante que o Presidente sente que o Governo de Mari Alkatiri "é claramente incapaz de controlar a situação". Por isso assumiu o controlo da segurança e a coordenação com as forças internacionais em Timor-Leste, afirmou a mulher do Presidente timorense em entrevista à rádio australiana ABC.

"Penso que Xanana sente que, claramente, o Governo é incapaz de controlar a situação. Não é claro quem é que está a comandar as Forças Armadas, que parecem estar agora a alvejar as famílias de agentes da polícia em Díli", disse Kirsty Sword à ABC.

"Depois do grave surto de violência de ontem (...), Xanana deixou bem claro que assumiu o comando das forças internacionais que chegaram ontem. Reunimo-nos com o general Ken Gillespie e com representantes do Governo australiano e do Governo neozelandês", acrescentou.

Nesse encontro, segundo a mulher do Presidente timorense, Xanana Gusmão "fez um ponto da situação, disse que ficou chocado com o fracasso do Governo e deixou bem claro que assumiu o controlo das forças de defesa".

Sobre a posição do primeiro-ministro timorense, Mário Alkatiri, que se recusa a reconhecer a autoridade exclusiva de Xanana Gusmão sobre as forças de segurança, Kirsty Sword levantou mesmo a hipótese de alterações ao nível da governação: "Penso que vamos assistir a mudanças significativas. Acho que o Governo perdeu a confiança da população".

Alkatiri garante que a situação está controlada

Nas declarações à Lusa, Mari Alkatiri contradisse a alegada autonomia e autoridade das tropas australianas no terreno, declarando que a segurança de Timor-Leste é da responsabilidade do Governo e que as forças timorenses actuam "em coordenação" com as internacionais, no âmbito das "regras de actuação" definidas nos acordos assinados.

"A segurança interna é da responsabilidade do Governo. Neste momento temos forças internacionais a ajudar na segurança interna", referiu.

"O comando das forças internacionais não está nas mãos nem do Governo nem de nenhuma instituição timorense, mas há coordenação entre o comando das forças institucionais e das F-FDTL e coordenação política feita pelo Governo", sublinhou Alkatiri.

Ramos Horta diz que quem comanda são os australianos

A posição de Mari Alkatiri sobre o papel das F-FDTL contradiz a do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos Horta, que hoje afirmou a uma rádio neozelandesa que as forças australianas tomariam posição nos principais locais da cidade, confinando os militares rebeldes e os soldados das forças governamentais aos quartéis de Baucau e Metinaro.

"As Forças Armadas timorenses concordaram em retirar completamente da cidade, para a zona leste da capital, onde está o seu quartel", referiu Ramos Horta.

"Quaisquer outros elementos armados serão conduzidos para acantonamentos controlados pela força australiana", concluiu.

Entretanto, o responsável da Força Aérea australiana, Angus Houston, disse hoje que o Governo timorense ordenou aos soldados da F-FDTL que regressassem aos quartéis, entregando a responsabilidade da segurança aos australianos e ordenando os rebeldes a entregarem as armas.

Se alguém atacar soldados australianos, estes responderão. "Usaremos força letal apenas quando for absolutamente necessário", disse.

Os últimos dados indicam que já estão no terreno mais de 650 soldados australianos. Os restantes elementos da força de 1300 são esperados até ao final do dia de amanhã.

Estas posições contraditórias sugerem que no primeiro dia de operações das tropas australianas em Timor-Leste permanece alguma confusão quanto ao seu mandato, sobre as responsabilidades de comando da operação e sobre o eventual papel que as F-FDTL e as restantes estruturas de segurança timorenses terão no terreno.